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Ele foi ejetado do jato a 14 mil metros de altura
Ele foi ejetado do jato a 14 mil metros de altura
Por Administrador
Publicado em 30/12/2025 08:32
História
Ele foi ejetado do jato a 14 mil metros de altura

Em 26 de julho de 1959. O tenente-coronel William Rankin cumpria uma missão de rotina sobre o sudeste dos Estados Unidos quando o impossível aconteceu.

Seu F-8 Crusader voava a 14 mil metros — mais alto que o Everest, onde o céu começa a escurecer e o ar deixa de sustentar a vida. Então, o motor explodiu.

Rankin teve segundos para escolher. Poderia tentar planar até uma altitude segura ou puxar a alavanca imediatamente. A cabine já se enchia de fumaça. Os controles falhavam. Ele puxou.

O assento de ejeção o lançou para um frio de quase 70 graus negativos. Lá em cima, o oxigênio é escasso e a pressão é tão baixa que os líquidos do corpo humano começam a vaporizar — um fenômeno chamado ebulição sanguínea. O sangue de Rankin começou, literalmente, a ferver.

Sua máscara de oxigênio foi arrancada na ejeção. Ele começou a perder a consciência.

Então o paraquedas abriu.

E foi aí que o inferno começou de verdade.

Rankin havia sido lançado diretamente dentro de uma nuvem cumulonimbus — uma tempestade colossal, um arranha-céu de vento e fúria que se estendia do chão até quase 15 mil metros de altura. Por fora, pilotos evitam essas nuvens como evitariam um monstro. Por dentro, elas são furacões verticais.

Rankin caiu dentro de um deles.

Em vez de descer, foi capturado. Correntes de ar violentas agarraram seu paraquedas, arremessando-o para cima, depois para os lados, depois novamente para cima. Ele estava preso dentro de uma criatura viva feita de vento, gelo e eletricidade.

Pedras de granizo, algumas do tamanho de bolas de golfe, castigavam seu corpo. Relâmpagos estouravam tão perto que ele sentia os cabelos se eriçarem e o cheiro metálico do ozônio queimando o ar. O trovão não era mais som — era impacto, um soco invisível no peito.

A chuva encharcou o paraquedas, que colapsava e o lançava em queda livre, apenas para se abrir de novo e puxá-lo brutalmente para cima. Ele vomitou. Desmaiou. Acordou ainda girando.

A temperatura enlouquecia. No topo das correntes ascendentes, o frio congelava sua roupa, sua pele, seus cílios. Segundos depois, ele despencava em ar mais quente, o gelo derretia — só para congelar outra vez.

Respirar era quase impossível. A chuva era tão densa que parecia afogamento no ar. Ele engasgava, inalava água, sentia os pulmões queimarem.

Mais tarde, Rankin diria que se sentia sendo rasgado em pedaços. As forças violentas esmagavam seu corpo, soltavam, esmagavam de novo. Ele estava coberto de hematomas, sangrando, entrando em hipotermia.

O tempo perdeu o sentido. Minutos pareciam horas. Ele acreditou que morreria ali, girando eternamente dentro daquela nuvem, sem jamais tocar o chão.

Então, de repente, a tempestade o cuspiu.

Ele rompeu a base da nuvem a cerca de 3 mil metros de altitude. Ainda alto, mas finalmente em queda normal. Viu árvores. Viu a terra.

Caiu sobre uma floresta na Carolina do Norte. Galhos se partiram. O paraquedas se enroscou nas copas, amortecendo o impacto o suficiente. Ele bateu no chão ferido, atordoado — vivo.

Por alguns minutos, ficou deitado, incapaz de acreditar.

Depois se levantou. Livrou-se do paraquedas. Começou a andar. O corpo estava marcado por vergões de granizo, queimaduras leves, congelamentos. Sangrava. Mas andava.

Encontrou uma estrada. Depois uma casa.

Um fazendeiro abriu a porta e deu de cara com um piloto em farrapos, em choque.

— Eu… eu acabei de cair do céu — disse Rankin.

Quando médicos militares e meteorologistas ouviram o relato, ficaram atônitos. Ninguém deveria sobreviver àquilo. A descompressão deveria tê-lo matado. O frio, o granizo, os relâmpagos — tudo apontava para a morte.

Mas não matou.

Rankin passou semanas se recuperando. Em 1960, escreveu O Homem que Cavalgou o Trovão, o único relato em primeira pessoa de alguém que sobreviveu ao interior de uma tempestade dessa magnitude.

Seu testemunho ajudou a ciência. Mudou protocolos de aviação. Salvou vidas futuras.

William Rankin viveu até os 89 anos.

Cinquenta anos depois, meteorologistas ainda citam seu nome. Pilotos ainda estudam sua queda impossível.

Porque ele provou algo raro e desconcertante: às vezes, mesmo quando tudo falha, quando a natureza mostra sua face mais cruel, quando a morte parece certa…

o ser humano ainda resiste.

Ele caiu nove mil metros por um céu que tentou destruí-lo.

E saiu andando.

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