A Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão contra os deputados federais Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ) e Carlos Jordy (PL-RJ), em meio a uma investigação de desvio de dinheiro público de suas cotas parlamentares usando, inclusive, locadoras de carros. Foram apreendidos cerca de R$ 430 mil em endereço do líder do PL na Câmara, o que reforça que ele é mesmo aliado do clã Bolsonaro — que gosta de usar grandes somas em dinheiro vivo.
Jordy afirmou que a Polícia Federal está sendo "usada para intimidar parlamentares da oposição". A desculpa de que a PF é um instrumento da vontade do governo Lula e promove uma "perseguição implacável" pode ser útil para acalmar o rebanho, mas quem tentar nadar no argumento vai perceber que ele é raso como um pires.
Ainda mais que, ontem mesmo, a corporação realizou mais uma operação contra a roubalheira no INSS, mandando para a prisão domiciliar o agora ex-secretário-executivo do Ministério da Previdência, Adroaldo Portal. Ou seja, causando constrangimentos ao próprio governo, por mais que o escândalo não tenha começado nesta gestão.
Outro alvo foi o senador Weverton Rocha (PDT-MA), aliado de Lula no Senado. As mesmas investigações já haviam derrubado o ministro Carlos Lupi (PDT). E desdobramentos da operação ainda podem respingar no próprio filho do presidente, Fábio Luís da Silva, citado em conversas de envolvidos
O inquérito do INSS está sob responsabilidade do ministro André Mendonça, no STF, enquanto o dos desvios de grana de parlamentares, na aba do ministro Flávio Dino. Este último, aliás é relator dos casos que tratam da roubalheira nas emendas. Eles começam a ser julgados no início do ano que vem e têm potencial para causar uma hecatombe no Congresso Nacional.
A operação de hoje não é, portanto, exagero. A própria PF planejava realizar a ação antes, mas teve que reunir mais evidências ao STF para poder justificá-la. E não é cortina de fumaça, mas o funcionamento esperado das instituições. Ora, não dá para dizer que ela é ditatorial só na hora em que o pau come contra o nosso campo.
A tentativa de pintar a PF como braço armado de um governo específico desmorona diante dos fatos. A mesma PF que bate à porta de deputados bolsonaristas também aperta o cerco sobre aliados do Planalto, integrantes do primeiro escalão e figuras bem relacionadas no Congresso. O fio condutor não é ideológico, mas financeiro: dinheiro público desviado, esquemas mal explicados e a velha cultura de tratar o Estado como extensão do patrimônio privado.
É isso que apavora parte do Congresso hoje. Não é perseguição política, é o risco real de que a normalização da impunidade esteja sendo interrompida. Com investigações sob relatores distintos no STF, indicados por Bolsonaro e Lula, e o julgamento dos desvios de emendas se aproximando, o parlamento encara a possibilidade de um banho de Pinho Sol.
Não à toa propostas de mudanças em leis tentaram amordaçar a Polícia Federal, sujeitando-a às conveniências do Poder Legislativo e de governos estaduais. Isso quando não tentaram reduzir as verbas para as investigações. A corporação precisa seguir as regras e não está acima delas, mas até agora, vem apenas cumprindo o mandato a ela entregue.
Quando a PF bate em todo mundo, a narrativa de vítima perde força, e sobra apenas a pergunta incômoda: quem mais vai cair quando a luz for acesa?