Cianorte, 30 de Agosto de 2025 — O Estado do Paraná definiu as regras para o que especialistas chamam de “Novíssimo Ensino Médio”, uma tentativa de corrigir rumos após um ciclo conturbado. A evolução recente pode ser dividida em três fases: o Velho Ensino Médio (até 2016), com currículo rigidamente disciplinar; o Novo Ensino Médio (2017-2024), marcado pela introdução de aulas não-presenciais (EaD, TV), disciplinas sem base científica consolidada como ‘Projeto de Vida’ e um preocupante esvaziamento da formação intelectual e cidadã, que abriu margem para a privatização de serviços dentro da escola pública; e agora a fase pós-Lei 14.945/2024, que tenta resgatar o caráter técnico, científico, informacional e cidadão da formação, mesmo sob resistência de forças políticas e econômicas.
A Rede Estadual de Ensino do Paraná, com mais de 2 mil escolas e quase 1 milhão de estudantes, será a primeira a implementar essa nova fase a partir de 2026, baseada na Lei Federal e na Deliberação CEE/PR nº 03/2025 (ver anexo no final do texto). A mudança prioriza a organização por quatro grandes áreas do conhecimento, substituindo o modelo tradicional de disciplinas isoladas.
Análise documental comparativa indica que, neste aspecto, o Paraná está entre os estados melhor organizados do país, devido a uma normatização robusta e a um modelo de governança que busca equilibrar a flexibilidade pedagógica com a padronização necessária para uma rede de grande porte.
A reestruturação organiza a Formação Geral Básica (FGB) em: Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. As disciplinas tradicionais permanecem obrigatórias, mas terão suas cargas horárias distribuídas de forma integrada dentro de cada área.
A grande preocupação de especialistas é se a estrutura por grandes áreas garantirá paridade e equidade entre os componentes curriculares clássicos, mantendo a premissa de que todo saber é importante e de que as disciplinas se completam de forma transversal, sem hierarquização.
Um dos pilares centrais da proposta paranaense é o ‘Projeto de Vida’, que nesta nova fase é tratado como eixo articulador de todo o currículo, com o objetivo de auxiliar o jovem a refletir sobre suas aspirações e planejar seu futuro.
Currículo Padronizado em Rede de Grande Porte
A nova arquitetura curricular não estabelece um número mínimo de aulas para cada disciplina, definindo a carga horária total para cada área. Na prática, a Seed/PR deve definir um currículo base padronizado para toda a rede, com matrizes de referência que orientem a distribuição da carga horária dentro de cada área.
Especialista aponta méritos e riscos da flexibilidade
Na análise do professor Stallone Ribeiro, a reforma busca promover a “interdisciplinaridade e a transversalidade das competências, habilidades, conhecimentos e sabedorias”. No entanto, ele alerta para um risco inerente ao modelo: “A ausência de um piso garantido de aulas para cada componente curricular cria uma brecha perigosa. Sem essa garantia de equidade e paridade entre os componentes curriculares, há o risco de um esvaziamento crítico e científico de disciplinas fundamentais”.
Para o especialista, a efetiva implementação dessa visão integradora dependerá criticamente de diretrizes muito claras da Seed/PR, além de formação docente e recursos robustos para as escolas.
Após a FGB (Formação Geral Básica), os estudantes poderão escolher itinerários formativos para se aprofundar em áreas de interesse ou optar por uma formação técnica e profissional. A nova legislação redefine não apenas o que se ensina, mas como se ensina. Enquanto a proposta busca modernizar o ensino, o desafio permanece em equilibrar a flexibilidade com a garantia de uma formação integral e equânime em toda a rede de ensino.
