Pensamentos soltos
Opinião
Publicado em 09/12/2024

J. J. Duran

 

Os folhetos políticos não são outra coisa que não o acaso, o vago, o indeterminado. São o acontecimento que há de haver, o boato que se espalha.

Saem do ventre das especulações e, muitas vezes, dos interesses escusos quando manipulam nomes e fatos que atingem circunstanciais adversários, hoje chamados de "inimigos".

Passado o meridiano do tempo eleitoral, esses folhetos/panfletos se convertem em desgraçadas expressões da mediocridade.

Assim, se a velhice significa cabelos brancos e a mocidade ilusões frescas posso dizer, aos 97 anos de idade, que não anseio pelo futuro, porém não choro pelo passado.

Não voto nem eleito por ser, mas trago na minha história o passado de quem foi morto democraticamente no ano de 1946, na Argentina, por um governo eleito democraticamente pela força armada. Foi aí que resolvi me autodesligar da vida eleitoral e jamais voltar a votar.

Não me considero culpável por nenhum energúmeno elevado ao sitial de governante, mas sempre escrevi que admiro a todos, sem distinção ideológica, que tenham três virtudes em destaque: inteligência, honestidade e autenticidade antes, durante e depois de encerrar um mandato eleitoral democrático.

São miseráveis, torpes e covardes aqueles que escrevem contra o alvo sinalizado pelos patrões de turno, trocando sua liberdade de pensamento pelas 30 moedas que lhes pagam para difamar e semear o rancor, colocando em dúvida nossa sagrada profissão de jornalista.

Compartilho sim, e admiro humildemente desde minha iniciação como mais um no difícil metier de informar, aqueles colegas eternamente presos à ética, à verdade e ao respeito pelos princípios imortais da liberdade de pensamento.

Jamais odiei aos que me perseguiram, mas mesmo assim me encarceraram como dissidente, fazendo-me devoto do vocábulo decepção, que me leva a ter pena desses tartufos (e de mim mesmo) por não saber aceitá-los como autênticos e ilustres.

Penso que a tristeza irrita e endurece os homens, mas alguns nela encontram o ventre onde nasce sua simples ternura, e têm, como escreveu Olavo Bilac, "a dignidade da velha águia ferida que procura o cume da montanha para morrer soberana". (Foto: Reprodução)

 

J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná

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