Por 17 anos seguidos, a maioria dos produtores de soja do Brasil conseguiu fechar a safra com resultados financeiros positivos. No entanto, agora o cenário é outro. É o que diz a consultoria
“Apesar do recuo nos custos de produção, tivemos também a queda expressiva nos preços, ficando a possibilidade de renda positiva atrelada ao bom desempenho na produtividade – e mesmo nos casos positivos, no geral, com desempenho inferior aos três últimos anos”, comenta o economista e líder de conteúdo da empresa, Flávio Roberto de França Junior.
Segundo a consultoria, as variáveis que determinam a lucratividade bruta – definida através da relação entre a receita obtida, custo de produção e produtividade – pendem para o lado positivo apenas para os sojicultores que conseguiram colher bem.
“No lado limitante, consideramos queda expressiva na expectativa de produtividade média, muito abaixo da expectativa inicial e do recorde do ano passado. Apesar do bom nível tecnológico, a influência de um fenômeno El Niño de forte intensidade trouxe duros impactos por conta da irregularidade das chuvas”, diz França Junior.
Redução de produtividade
A consultoria reduziu o potencial de produtividade média da safra 2023/24 dos 3.592 kg/ha (59,8 sacas) da estimativa preliminar de julho de 2023 para os atuais 3.233 kg/ha (53,8 sacas).
“E com viés de baixa no próximo levantamento”, ressalta o líder de conteúdo da Datagro. Em caso de confirmação, esse desempenho seria 10% inferior aos 3.589 kg/ha do recorde alcançado na safra 2022/23.
Custos operacionais reduzidos
Foi observada expressiva retração nos custos operacionais de produção da safra 2023/24 de soja nos estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, líderes nacionais na produção da oleaginosa, conta a consultoria.
No entanto, a Datagro ressalta que esse recuo aconteceu sobre uma base muito elevada, depois dos fortes aumentos registrados nas safras 2021/22 e 2022/23.
“Esse é o segundo fator fundamental para a definição da renda desta temporada, e o único positivo aos ganhos dos produtores. De saldo, temos a diminuição de gastos com insumos e alguma retração no padrão da taxa de câmbio na temporada, mas, por outro lado, o aumento expressivo nos custos fixos”, ressalta o líder de conteúdo.
Preços da soja em 2024
Ao analisar os três principais componentes da receita do produtor (Bolsa de Chicago, prêmios de exportação e taxa de câmbio), a Datagro afirma que a sinalização inicial aponta preços domésticos abaixo dos excepcionais observados de 2020 a 2023, retornando para patamares aquém da média.
“Depois de 17 anos seguidos de renda dominantemente positiva aos produtores brasileiros de soja, a temporada da safra 2023/24 corre o risco de ter resultados negativos para a maioria. Só conseguirá atingir o 18º ano de lucratividade bruta favorável aqueles produtores que obtiveram sucesso na produtividade média”, analisa França Junior.