Pesquisa mostra que 61% dos produtores rurais não têm armazéns nas propriedades
AGRO
Publicado em 22/12/2023

A armazenagem de grãos é uma das atividades primárias mais importantes na logística do agronegócio. Garante competitividade, ao possibilitar a comercialização em momentos mais oportunos, evitando que os agricultores sejam obrigados a vender grande parte da produção logo após a colheita. Também é fator de segurança alimentar, pois a disponibilidade de espaços adequados facilita a formação de estoques e o fornecimento de alimentos de qualidade.

O que se vê na realidade do campo, porém, é que a falta de estrutura para guardar os grãos é um dos principais gargalos da produção rural no país, como revela pesquisa da Esalq-Log (USP) encomendada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

O estudo traçou uma radiografia inédita a partir de entrevistas com 1.065 produtores do país e faz parte de um amplo estudo da CNA intitulado “Diagnóstico da Armazenagem Agrícola no Brasil”.

O levantamento aponta que 61% não têm infraestrutura de armazenagem na propriedade rural. Apenas 39% possuem algum tipo de estrutura para armazenar os grãos, sendo que 19,8% possuem silos convencionais ou graneleiros, 9,9% utilizam apenas silo bolsa (alternativa de menor custo de implantação, porém de curta durabilidade) e 9,2% usam silo bolsa como complemento aos outros silos.

É um resultado surpreendente para um país que bate recordes a cada safra: enquanto a produção de grãos cresce 12,5 milhões de toneladas por ano, a oferta nos armazéns cresce apenas 4 milhões de toneladas/ano.

Entre os produtores sem estruturas, 72,7% investiriam em armazéns, se tivessem linhas de crédito e juros mais atrativos. Também apontaram a necessidade de qualificação de mão de obra e de investimentos em distribuição de energia e manutenção de estradas.

Os produtores defendem taxas de juros de 2% a 5% ao ano, prazo de financiamento de 12 a 20 anos e carência do pagamento da amortização de 3 a 5 anos. A linha de crédito para armazenagem do Plano Safra atual, chamada PCA (Plano para Construção e Ampliação de Armazéns), tem taxa de juros de 7% a 8,5%, prazo de até 12 anos e carência de 3 anos.

— Há estimativa de que seria preciso gastar R$ 15 bilhões por ano para corrigir a distância entre o crescimento da produção e o crescimento da capacidade de armazenagem, mas o Plano Safra disponibilizou R$ 6,6 bilhões para armazenagem em 2023/2024. São necessárias políticas públicas voltadas para o aumento da oferta da capacidade de armazéns, dentro e fora das propriedades rurais

O eixo de infraestrutura do PAC (Plano de Aceleração de Crescimento) contemplou rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, mas não há qualquer menção aos armazéns — afirma Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da CNA.

Os ganhos econômicos das fazendas com estrutura própria de armazenagem ficaram claros no estudo. Quase um quarto (24,2%) dos produtores disse ter aumentado a lucratividade entre 6% e 11%, comparando as vendas tardias com as da época da colheita:

— É um ganho muito significativo, porque quando se fala de commodity – produto de menor valor agregado –, o sistema de transporte é predominantemente rodoviário, o que resulta em custos de transportes elevados, já que são percorridas grandes distâncias até o porto. Para quem tem o armazém na propriedade, abre-se uma janela de oportunidade. Por que o produtor vai escoar a soja e o milho no pico da safra, por exemplo, se pode fazer posteriormente, quando o frete é menor e o preço do grão mais atrativo?

Entre os 39% de produtores que têm armazenagem da propriedade, a maioria (74,8%) apontou a estratégia de comercialização como fator determinante para a decisão de estruturar seus próprios armazéns. Foram citadas também vantagens como redução do custo com serviços de terceiros e garantia da qualidade dos produtos, evitando os riscos de guardar os grãos a céu aberto.

Entre os principais desafios na gestão dos armazéns, foram citados falta de mão de obra qualificada, alto custo da estrutura, controle de pragas e risco de roubos, especialmente nas propriedades mais remotas.

 

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