A Teoria da Estupidez e os pombos, defecam no tabuleiro.
“Discutir com idiotas é como jogar xadrez com um pombo. Não importa o quão bom sejas — o pombo vai defecar no tabuleiro, andar por cima das peças e fingir que ganhou.” — Shannon L. Alder
A imagem do pombo sobre o tabuleiro é cômica, mas a ideia subjacente é trágica. Décadas antes de alguém a formular com humor, Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano e opositor do regime nazi, já a compreendera em toda a sua gravidade. Preso e executado em 1945, Bonhoeffer escreveu durante o cativeiro uma das análises mais lúcidas e inquietantes do século XX: a Teoria da Estupidez.
Para Bonhoeffer, a estupidez é um mal com maior perigosidade do que o próprio mal. O mal é consciente, sabe o que faz, pode ser reconhecido e combatido. A estupidez, não. É inconsciente, autossatisfeita e moralmente inabalável. Não nasce da falta de inteligência, mas da renúncia deliberada ao pensamento, à lógica e ao bom senso. O estúpido não é incapaz de pensar — apenas prefere não o fazer. E é justamente essa abdicação que o transforma no instrumento ideal de qualquer tirania, ideologia ou manipulação colectiva.
Quando a estupidez se torna socialmente aceitável, quando passa a ser vista como uma forma legítima de opinião, o debate morre. Já não há confronto de ideias, mas ruído de convicções. O pombo, símbolo perfeito desse estado mental, ignora as regras, suja o tabuleiro da razão e proclama vitória entre aplausos de outros pombos igualmente satisfeitos. É o retrato da estupidez organizada: confiante, barulhenta e impermeável à realidade.
Bonhoeffer observou que a estupidez não nasce no isolamento, mas na adesão cega ao grupo. O indivíduo, ao diluir-se na massa, perde a autonomia do pensamento e torna-se previsível, manipulável, submisso e, pior que tudo, convencido da própria lucidez que na verdade é estupidez. Hoje, essa massa não precisa de uniformes nem desfiles — basta-lhes redes socias, afagos falsos, favores pessoais, um donativo qualquer embora com dinheiro público, o bando de pombos não distingue, ou não se importa ser parte de um modelo de corrupção.
O mesmo mecanismo: certezas instantâneas, indignações fabricadas e um orgulho quase devoto religioso em não compreender absolutamente nada.
A realidade hoje está um pouco assim, um novo tabuleiro de xadrez onde milhões de pombos sujam pequenos tabuleiros, convencidos de estar a vencer um jogo que nem sequer entendem. O ruído substituiu o raciocínio; a convicção, a verdade. E a multidão celebra a ignorância como virtude moral.
Bonhoeffer tinha talvez razão: a estupidez não se combate com inteligência, mas com coragem moral — a coragem de continuar lúcido quando o mundo exige cegueira, de manter a razão quando a turba exige reflexão à realidade.
Discutir com pombos é inútil, mas compreender a razão dos seus voos caóticos continua a ser a última responsabilidade dos que ainda pensam.
