A China e os Estados Unidos informaram que concordaram em reduzir suas tarifas por 90 dias, entre os detalhes do encontro realizado entre representantes dos Estados Unidos e da China neste sábado (10) começaram a ser divulgados nesta segunda-feira (12). O anúncio foi feito em uma declaração conjunta - e surpreendente - em que consta que "ambos os lados reconhecem “a importância de um relacionamento econômico e comercial sustentável, de longo prazo e mutuamente benéfico”.
As revisões tarifárias começarão a valer até 14 de maio, de acordo com o que informou a CNN Internacional. As taxas de 20% sobre o fentanil impostas pelo presidente americano Donald Trump à China em fevereiro e março serão mantidas. No entanto, cada lado concordou em reduzir as tarifas "recíprocas" do outro em 115 pontos percentuais por 90 dias.
Desta forma, os EUA reduzirão temporariamente suas tarifas gerais sobre produtos chineses de 145% para 30%, enquanto a China cortará seus impostos sobre importações americanas de 125% para 10%, de acordo com a declaração conjunta.
"O consenso de ambas as delegações é que nenhum dos lados quer a dissociação, e o que ocorreu com essas tarifas altíssimas... foi o equivalente a um embargo, e nenhum dos lados quer isso. Queremos comércio. Queremos mais equilíbrio no comércio. E acredito que ambos os lados estão comprometidos em alcançar isso", afirmou Scott Bessent, secretário do Tesouro Americano em uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira em Genebra.
Segundo fontes familiarizadas com o assunto, ainda de acordo as primeiras informações divulgadas sobre a reunião, os dois países teriam feito um "progresso substancial" sobre suas relações comerciais.
"Fizemos um progresso substancial", afirmou Bessent ainda no domingo (11). na Suíça.

Scott Bessent e Jamieson Greer em entrevista a jornalistas em Genebra, na Suíça, neste domingo (11)
Foto: Valentin Flauraud/AFP/Getty Images.
Para o vice-premiê da China, He Lifeng, afirmou que os dois dias de conversas e negociações foram "um importante primeiro passo" para uma solução de diferenças. Além disso, o político chinês disse ainda que ele e Bessent concordaram em criar uma mecanismo para próximas conversas, liderado por ambos.

He Lifeng, vice-premier da China
"Como dizemos na China, se as refeições são deliciosas, o momento não importa", disse o vice-ministro do Comércio chinês, Li Chenggang, que foi nomeado representante comercial no mês passado e integrou a comitiva da nação asiática, a repórteres em Genebra. "Quando forem lançadas, serão boas notícias para o mundo."
A equipe chinesa também incluiu o vice-ministro das Finanças, Liao Min , um veterano das negociações da primeira guerra comercial entre EUA e China.
A agência internacional de notícias Bloomberg listou cinco pontos-chave de atenção sobre o anúncio conjunto de China e EUA sobre o início do acordo comercial e o corte das tarifas:
- Ambos os lados emitiram declarações idênticas na segunda-feira, concordando em reduzir significativamente as tarifas antes de 14 de maio: Pequim reduziu os impostos sobre produtos dos EUA de 125% para 10% por 90 dias, enquanto Washington está reduzindo seus impostos de 145% para 30%.
- A China também disse que suspenderia ou cancelaria suas "contramedidas não tarifárias" impostas aos EUA desde 2 de abril. Isso provavelmente é uma referência à adição, pela China, em 4 de abril, de sete terras raras à sua lista de controle de exportação, uma medida amplamente vista como uma resposta às tarifas cada vez mais punitivas implementadas pelo governo Trump.
- Os EUA e a China estabeleceram um mecanismo de consulta económica e comercial que permitirá a ambas as partes continuarem as suas negociações
- O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que os EUA e a China concordam que nenhum dos lados quer se separar, acrescentando que houve discussões "robustas" sobre o fentanil e que as negociações podem levar a " acordos de compra " pela China.
- Os mercados comemoraram a redução de taxas, com as ações chinesas ampliando seus ganhos com os principais indicadores eliminando as perdas tarifárias, enquanto o dólar subiu para uma alta de um mês em relação ao euro e ao iene.
As primeiras reações do mercado foram bastante positivas já com as informações de que os países haviam progredido bastante nas conversas durante o final de semana, porém, a confirmação da drástica redução das tarifas foi o combustível fundamental para os ativos. Na madrugada desta segunda-feira, os índices acionários disparavam nos EUA e fechavam com fortes altas na Ásia. O dólar index disparava e tinha mais de 1% nesta manhã, por volta de 5h50 (horário de Brasília), enquanto a soja na Bolsa de Chicago operava com altas de dois dígitos. O petróleo subia mais de 2%, tanto no WTI, quanto no brent, enquanto o ouro despencava mais de 3%.
De acordo com informações da agência internacional de notícias Bloomberg, as negociações dos Estados Unidos com a China estão sendo muito de perto monitoradas por países com Japão, Coreia do Sul e Vietnã, que também buscam um meio-termo com os americanos. E, segundo explicam especialistas, em todas as conversas estão os produtos agrícolas. O primeiro ministro japonês, Shigeru Ishiba, espera alcançar um acordo com os EUA ainda em julho.
"Foram dois dias muito construtivos. É importante entender a rapidez com que conseguimos chegar a um acordo, o que reflete que talvez as diferenças não tenham sido tão grandes quanto se pensava. Dito isso, houve muito trabalho de base nesses dois dias", afirmou o representante do comércio dos EUA, Jamieson Greer. Especialistas lembram ainda que a remoção das restrições de exportação da China para terras raras está no topo da lista dos EUA.
Entre tantas especulações, um ponto é de convergência entre os especialistas: independente do que seja oficialmente informado nesta segunda-feira, o caminho para um acordo eficiente, prático e que seja, de fato, substancial, deverá levar ainda um tempo considerável.
"Há sete anos, neste mês, o governo Trump iniciava sua primeira rodada de negociações comerciais com a China. Demorou mais 20 meses até que um acordo fosse finalmente assinado — incluindo um desmantelamento público . Desta vez, os desafios estruturais são maiores. Ambos os lados intensificaram os controles de exportação, que seriam difíceis de reduzir, e os EUA declararam que isso representaria um reequilíbrio fundamental de seu déficit comercial", trouxe a Bloomberg.
Além disso, nas análises aparecem ainda os frequentes e repetidos pedidos da China por respeito pelo EUA e que o encontro deste sábado é, nesta nova fase, a primeira oportunidade de Pequim para avaliar as reais intenções de Washington com tais negociações.
"Embora os sinais de redução das tensões entre EUA e China possam oferecer a outras nações um breve suspiro de alívio, o risco de dependência excessiva das duas maiores economias do mundo pode ter se agravado durante a atual guerra comercial. A longo prazo, elas ainda podem precisar diversificar seus canais comerciais e cadeias de suprimentos", afirmou a repórter de economia Yoshiaki Nohara, direto de Tóquio.
Ainda como reforça a Bloomberg, as autoridades do presidente Xi Jinping buscaram fortalecer a economia do país antes das negociações, implementando uma série de cortes de juros e mais recursos para os bancos. Mas os dados mostram sinais de fraqueza no futuro. A deflação ao consumidor na China se estendeu pelo terceiro mês em abril, com a guerra comercial agravando a pressão sobre os preços devido à fraca demanda interna.
Do mesmo modo, os especialistas explicam também que "o medo de prateleiras vazias pode ter contribuído para a urgência das reuniões, com as exportações chinesas para os EUA despencando 21% no mês passado. Trump e sua equipe econômica receberam apelos de executivos do varejo, que explicaram em reuniões com altos funcionários que o resultado de tarifas elevadas e constantes resultaria em escassez de produtos no nível da pandemia e choques na cadeia de suprimentos".
O Notícias Agrícolas ouviu especialistas sobre as expectativas centrais dos especialistas sobre o agronegócio - brasileiro e mundial -, porém, também com ainda pouco aprofundamento, uma vez que os mercados todos estão focados em entender o que na prática será feito.