J. J. Duran
"Desde que a utopia digital revelou sua verdadeira faceta, a internet deu voz a uma legião de imbecis" - Umberto Eco.
O que vimos e ouvimos na campanha eleitoral que está chegando ao fim foi uma mostra pronta e acabada da miséria conceitual que rodeia o quadrante republicano brasileiro.
Dois valores foram marcantes na versão paroquial desse tempo: empáfia e futilidade, frutos do tempo letárgico que vive a classe política.
O debate, sem debate, foi a tipificação do "habeas cinismo" por parte dos candidatos, que deram lamentáveis explicações sobre suas virtudes como homens públicos.
No novo espaço público da comunicação, cujo centro são as redes sociais, encontra-se a mistificação grosseira e inequívoca da miséria cultural que permeia o pensamento político não de todos, mas da maioria dos candidatos.
Debater, na política e em tempos de democracia, não significa conciliação dos ideários, projetos e ideologias.
Debater significa abrir as páginas de biografias verdadeiras e não aquelas fajutas, produzidas por muito bem pagos marqueteiros, reconhecer a pertinência de visões divergentes e aceitar os fatos com o respeito.
A verdade forma parte substancial da vida pública de um candidato, mas hoje ela não tem primazia de alguns candidatos tresnoitados.
Chegou ao fim o primeiro capítulo que o cientista político Christiam Linch chamou de "jornadas repetidas até cansar de falsos passados e suas verdadeiras biografias".
Não são os vencedores que vão determinar o conteúdo do processo sociopolítico e cultural dos próximos quatro anos em cada pacata ou ex-pacata aldeia.
Toda sociedade tem o dever de atuar, controlar e, democraticamente, exigir o cumprimento das promessas de campanha por todos os vencedores nas urnas.
Nesse futuro próximo apagam-se as luzes do proscênio. Tomara não se apaguem também as esperanças do eleitor. (Foto: Divulgação MP)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná