J. J. Duran
Já estamos assistindo a mais um processo silencioso das costuras políticas com vistas às eleições de outubro, cujos critérios aparentes para formular alianças e definir candidaturas resultam de combinações e representatividade das agremiações e nomes, num cenário carregado do mais estranho subjetivismo e de conchavos degradantes.
Quase sempre, essas costuras ocultam e travestem os personagens escolhidos para serem colocados na vitrine do eleitorado, numa espécie de pisoteio da ética política.
Nem mesmo os alfaiates dessas costuras recrutam nos bairros os mais capazes eleitoralmente, numa chocante manifestação de total desapreço aos princípios mais elementares dessa mesma ética.
Trata-se de um processo do qual não participa organicamente o maior interessado, que é o eleitor, o que transforma os pleitos políticos paroquianos numa verdadeira sepultura da credibilidade.
Sob a opereta das convenções, ratifica-se o quadro antecipadamente definido em recintos fechados e, por vezes, até em lanchonetes onde são habituês os "donos" dos partidos, que escolhem o candidato a "libertador" da cidade entre amigos, protegidos ou parentes.
Assim, vão delineando os quatro ou oito próximos anos, nos quais contratos milionários vão ser discutidos e definidos pelos fulgurantes membros do novo círculo vermelho.
Muitos velhos personagens da oligarquia paroquiana aparecem no cenário junto com uma complexa rede de interesses pré-definidos e acomodações condenáveis, que se legitimam pela sua capacidade de confundir o eleitorado.
Custa acreditar que nomes com passado político respeitável, biografias sem retoques, entrem na arena política para servir aos interesses de uma episódica conjuntura política.
A escolha dos candidatos deve ser definida em praça pública, sob a luz do sol, e não em tabernáculos políticos, pois as frustrações e os fracassos vão deixando pelo caminho a esperança do povo de encontrar, ou reencontrar, seu verdadeiro representante.
Entrei pela primeira vez na vida política num comitê do Bairro San Telmo, no longínquo 1936, quando a União Cívica Radical escolheu Raul Alfonsin como seu candidato, e confesso que até hoje sinto saudades daquele longínquo tempo de militante, por mais que ele tenha me levado ao ostracismo, ao exílio e, por fim, ao cárcere. (Foto: Reprodução internet)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná