Com pouco fluxo de visitantes entre expositores e preços considerados abusivos, evento que já foi um dos mais tradicionais do Paraná definha, ano após ano
Não foi só o desabafo do vereador Serginho Ribeiro na tribuna da Câmara de Vereadores de Cascavel que ecoou sobre a 42ª edição da Expovel, realizada em Cascavel de 20 a 24 de setembro.
O evento que já figurou como um dos maiores do Paraná e com destaque nacional em um passado não muito distante, vem, aparentemente, minguando em público, ano após ano. Não fossem os shows, o público seria ínfimo. Neste ano, a expectativa dos organizadores, a Sociedade Rural do Oeste do Paraná, era de receber 100 mil visitantes, mas há quem conteste os números até agora não confirmados.
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Uma das indagações, reiterada por imagens do evento, é de um dos expositores que, por receio de retaliações em feiras do segmento, preferiu não se identificar. “Há alguns poucos anos a gente atendia centenas de pessoas num mesmo dia, tinha movimento, famílias, o parque estava cheio. Nos últimos anos o movimento quase nem compensa. É um ou outro gato pingado e vendas mesmo, são poucas”, comentou a reportagem. A 42ª Expovel contou, segundo a SRO, com cerca de 200 expositores.
Não precisa de muito para se certificar que o maior fluxo de visitantes está de fato em dias de shows, que, por sinal, não trouxeram atrações locais, como lembrou o vereador Serginho na tribuna do legislativo na última semana. “Eu nem pedi para mim, que sou músico de rock. Falei em nome do segmento sertanejo, onde temos excelentes talentos”, considerou ao contar que tentou diálogo com a Sociedade Rural, realizadora do evento, e a terceirizada que contratou os shows, mas que foi em vão.
O questionamento do parlamentar veio na esteira da informação de repasse de recursos públicos para a realização do evento. Em 2022 foram R$ 100 mil e neste ano, diante de um cenário de prefeituras cortando gastos com a queda expressiva na arrecadação, foram R$ 7 mil.
Site em manutenção
Até o site oficial do evento estava fora do ar. Em consulta no domingo (veja foto abaixo), último dia do evento que contou com uma programação de destaque para a final do rodeio, a informação era de que a página estava em manutenção. “Há alguns anos as famílias vinham para trazer as crianças para ver os animais, nem isso mais acontece. Acho até que tem gente que nem sabe na cidade que a Expovel foi realizada na última semana”, seguiu o expositor.
A noite de sábado, no entanto, foi considerada uma das mais agitadas com público visitando espaços comuns, considerando apresentação de Ana Castela e Pedro Sampaio com entrada liberada.
Muito aquém de outras exposições da região
Mesmo que as estimativas da Sociedade Rural fossem alcançadas, com um público de 100 mil visitantes em cinco dias na medição feita pela própria organização do evento, o movimento é um dos menores e mais tímidos entre feiras similares realizadas pela região.
A Expo Rondon, em Marechal Cândido Rondon, por exemplo, que foi realizada em julho passado, reuniu mais de 150 mil visitantes. Vale destacar que o município de Marechal Rondon tem pouco menos de 56 mil moradores, ou seja, três vezes a população local passou pela exposição.
Por lá, os que não queriam ver os shows pagantes e só desejavam curtir as demais atrações do evento tiveram a opção de acompanhar apresentações na Casa Cultural, com bandas locais e da região, coral local, grupos folclóricos. Outros visitavam as variadas exposições (indústria, comércio, serviços, agropecuária, orquídeas, pequenos animais), sem contar as opções gastronômicas, como o tradicional café colonial, o costelão do CTG, a comida alemã e a nacionalmente conhecida Festa do Boi no Rolete.
Na Expo Palotina, evento realizado em maio deste ano, as dezenas de milhares de visitantes da feira foram atraídos por shows gratuitos todos os dias. Entre as atrações esteve a dupla Gian e Giovani, além de artistas locais e regionais.
Saindo do oeste e viajando até o noroeste, o destaque vai para a Exposição Agropecuária e Industrial de Umuarama. A Expo Umuarama realizada em março atraiu o gigantesco público de quase 290 mil visitantes em dez dias de realização. O sucesso por lá, na 48ª edição e nas que a antecederam, pode ser atribuído ao grande número de expositores, shows nacionais, mas com programação paralela voltada às inovações tecnológicas, palestras, rodeio, leilões e uma praça de alimentação ampla e diversificada. Uma extensa lista de seminários atraiu público dos mais diversos segmentos.
Por quase metade do período da feira, nos quatro primeiros dias, a entrada dos visitantes foi liberada para shows, rodeios e demais atrações artísticas.
A reportagem não conseguiu contato com a Sociedade Rural. As ligações não foram atendidas.
Críticas nas redes sociais: “evento para ricos e muito caro”
Os visitantes ou potenciais visitantes utilizaram as redes sociais para reclamar do evento. E não foram poucas. Além das reclamações sobre valores, da perturbação de sossego, um visitante comentou, no grupo do Facebook “Elogios e Reclamações Cascavel - SEM CENSURA” que “do que adianta a Expovel fazer entrada gratuita na quarta-feira se o estacionamento é R$ 50,00! Fora todas as coisas absurdamente caras lá dentro. Foi a primeira e última vez que fui e aconselho a todos a não irem”.
Em um dos comentários a outra postagem sobre o evento, um internauta disse que a “Expovel foi boa do final (Sic) dos anos 80 para anos 90”. “Aquelas ruas eram cheias de carrinhos de lanches, e outras coisas, barracas com bebidas e lanches, estande com restaurante, o mais disputado era o (nome da empresa) com suas porções, depois elitizaram, ficou só para a nata, os pobres foram excluídos, trabalhei anos lá expondo na empresa que trabalhava, chegávamos revezar para ficar dormindo e cuidando do estande, faz décadas que não frequentamos mais”.
Dezenas de outros comentários similares o acompanharam. Outro internauta marca o prefeito Leonaldo Paranhos e outros políticos locais e diz que a “Expovel deixou de ser uma atração como era antigamente que pena não atrai toda a população. Os shows têm que ser para quem quer ver show e portões abertos à população”. Vale destacar que o evento é uma realização da Sociedade Rural, e não da Prefeitura de Cascavel.
Outro vai além e diz que “pagar esses absurdo de caro e depois passar necessidade em casa! Com esse dinheiro aí da entrada eu compro carne pra comer uns dias em casa”.
Outro comentário com um amplo engajamento dos internautas foi o de um cidadão que afirmou que “tudo a preço de ouro”, que estava mais caro que o ano passado. “Os brinquedos a R$ 10 cada ingresso. Um cachorro quente R$ 30, cerveja e água a R$ 10. Tudo muito caro”, completou.