Nos últimos setenta anos, quantos prefeitos governaram Curitiba? A lista começa com Ney Braga, o primeiro eleito para o cargo, passa por alguns que já morreram há muito tempo, como Omar Sabbag, por outros que viveram até recentemente, como Jaime Lerner, chega aos que ainda estão vivos mas fora do poder, como Roberto Requião, e continua até o atual dono da cadeira, Rafael Greca.
Mas durante todo esse tempo um outro poder continuou sempre nas mesmas mãos, com pequenas variações. Desde os anos 1950, o transporte coletivo de Curitiba, responsável hoje por cerca de R$ 1 bilhão ao ano, esteve sempre nas mãos das mesmas famílias – principalmente nas mãos da família Gulin. Quando Ney Braga era prefeito, o dono dos bondes era Alfredo Gulin. Na época de Lerner, era seu filho Donato. Agora, com Greca, são os netos.
Durante esse tempo todo, a família há muito não se interessa em ter cargos políticos. Alfredo tentou a vida pública, Donato foi vereador por três mandatos na década de 1970. Mas depois ficou evidente que eles não precisam de votos: o poder dos Gulin também emana do povo. Mas ao invés de confiar no título de eleitor, eles preferem depender da carteira do curitibano. DE R$ 6 em R$ 6, ao longo desses 70 anos, construíram um império.
Além das muitas empresas de ônibus (hoje 7 das 11 que prestam serviço em Curitiba são dos Gulin), o império da família vai muito mais longe. A reportagem de Rosiane Correia de Freitas mostra isso de um jeito novo. Junto com as outras poucas famílias donas do transportes público de Curitiba, como os Bertoldi, os Gulin são sócios ou donos de nada menos que 371 empresas.
São empresas de todo tipo, incluindo construtoras chiques, hidrelétricas, muitas empresas de transporte, claro. E na verdade o mapeamento poderia ir muito mais longe, já que boa parte dos CNPJs em nome dos donos do transporte são empresas de participação. Ou seja: são lugares onde eles põem o dinheiro da passagem para investir em outros empreendimentos.
O império daquilo que Elio Gaspari chama de “transportecas” é uma prova definitiva de quanto o negócio é lucrativo – ainda mais quando a prefeitura não se cansa de dar incentivos, subsídios e de mudar o sistema de pagamentos quando a coisa aperta para os empresários – afinal, o Brasil tem a pretensão de inaugurar o capitalismo em que o empresário não pode jamais correr riscos.
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