IRONIAS NA BR.
BR-376, conhecida como Rodovia do Café/Governador Ney Braga, virou palco de um episódio que beira o surrealismo administrativo: a concessionária PRVias, do grupo Motiva, antiga Rodonorte/CCR Rodovias, reclamou do estado precário do asfalto que ela mesma gerenciou por 24 anos sob o nome Rodonorte.
A crítica partiu da própria empresa durante reunião com o deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli (PSD), após cobranças sobre a má qualidade do pavimento e a ausência de sinalização viária.
A ironia é evidente: a empresa que deixou a rodovia em estado crítico venceu novamente o leilão do Lote 3 e agora se queixa das condições que ela mesma deixou.
A CCR Rodovias, quando era chamada de Rodonorte, foi pivô de um escândalo de corrupção que envolveu devolução de valores e obras como forma de ressarcimento ao Estado do Paraná, agora opera sob o nome PRVias, parte do grupo Motiva, e tenta justificar os buracos e crateras como herança maldita — de si mesma.
Durante pronunciamento na Assembleia Legislativa do Paraná, Romanelli relatou que representantes da PRVias admitiram dificuldades em manter a rodovia, alegando que o pavimento está “oxidado” e que as chuvas recentes agravaram a situação.
O gerente de pavimentos da PRVias, Jonatan Praisner, prometeu intensificar as operações de tapa-buracos e realizar sinalização emergencial, já que à noite “ninguém enxerga nada” na pista.
O problema, porém, não é novo. A CCR Rodovias administrou o trecho entre Apucarana e o entroncamento com a BR-277 por mais de duas décadas. Nesse período, acumulou denúncias de superfaturamento, corrupção e má prestação de serviços. A empresa foi obrigada a devolver recursos, dar desconto no pedágio e realizar obras como parte de acordos judiciais. Mesmo assim, venceu o novo leilão federal para o Lote 3.
A situação atual da BR-376 é crítica. Motoristas enfrentam buracos, deformações no asfalto e ausência de faixas de sinalização horizontal. A concessionária, que já iniciou cobrança de pedágio antes mesmo de realizar a manutenção básica, descumpriu cláusulas contratuais e agora tenta remediar os danos com medidas emergenciais.
