1- O PDT se preocupou em construir um projeto voltado para a maioria desorganizada, não apenas ou primordialmente para a minoria organizada dos trabalhadores. O PT nasceu com base nos interesses e no ativismo da chamada aristocracia operária do Sudeste. Este primeiro foco do PDT, afirmado durante o período de liderança de Leonel Brizola, representou grande avanço em relação ao varguismo dos anos 1950, que definiu como cerne de sua base o operariado industrial formado no bojo da industrialização substituidora de importações. Por outro lado, o PT no poder trocou de base, procurando beneficiar e ganhar a maioria pobre, mas de uma forma que nunca perdeu o ranço assistentacialista – isto é, sem prática ou sequer proposta de mudanças estruturais.
2. O PDT sempre entendeu que o modelo de desenvolvimento que nos interessa passa pela democratização da economia do lado da produção e da oferta, não apenas do consumo e da demanda. E que por isso mesmo exige inovação institucional, inclusive na organização da economia de mercado. Não pode significar o que significava na época da industrialização convencional, chamada fordista, do século passado. Hoje a grande questão é como avançar em todos os setores da economia, não apenas na indútria, rumo a uma forma includente da economia do conhecimento. O PT nunca compartilhou esta preocupação. No poder, contentou-se em usar os estímulos keynesianos e em presidir a desindustrialização do país em favor de um nacional-consumismo.
3. Para o PDT, a afirmação da soberania nacional sempre teve primazia. Jamais teve para o PT. Não era insistência num nacionalismo vago ou retórico. Era e é o entendimento de que um projeto rebelde de desenvolvimento nacional exige independência de fato, inclusive na defesa, na busca de prestígio e protagonismo nas relações internacionais.
4. O PDT sempre entendeu que a afirmação da soberania nacional e a construção das mudanças estruturais na economia no sentido de um produtivismo includente exigem instrumentos políticos. E que entre estes instrumentos está o aproveitamento do potencial plebiscitário de nosso regime presidencialista . É um instrumento necessário, porém insuficiente para construir uma democracia de alta energia, que não precise de crise para propiciar mudança. O PT, com suas âncoras no sindicalismo das minorias organizadas e nos intelectuais de esquerda, sempre sofreu a tentação de render-se ao udenismo de esquerda: conselhos, participação, terceiro setor, até parlamentarismo- tudo menos a construção de um poder capaz de transformar de fato. Esta orientação política que ganhou ascendência no PT ajuda a caracterizar o que Darcy Ribeiro chamava "a esquerda de que a direita gosta".
5. Assim como a afirmação da soberania nacional precisa de instrumento político, assim também precisa de escudo fiscal. Daí a insistência do PDT em radicalizar no imperativo de realismo fiscal. Não para ganhar a confiança financeira, mas para assegurar que o Estado e o pais não dependam da confiança financeira e tenham margem para construir uma estratégia rebelde de desenvolvimento. O PT, ná pratica e no poder, fez o inverso: afrouxamento fiscal sempre que possível para impulsionar o consumo, exceto quando a ameaça de fuga de capitais o levava a privilegiar a busca da confiança financeira. Era o princípio seguido na política inglesa pore Wliiam Pitt the Younger (político que se tornou, aos 24 anos, o mais novo primeiro-ministro do Reino Unido em 1783): nenhuma concessão, exceto para as ameaças.
6. Central para o PDT, e em nenhum momento para o PT, foi e é a obra institucional de um governo, a única coisa que permite uma ação pública perdurar. Vivemos em meio aos destroços da última grande obra de construção institucional no Brasil: o corporativismo de Vargas. O PT aderiu à guerra contra o legado varguista e propôs colocar no vazio deixado por seu desmonte a humanização das instituições econômicas e políticas chamadas liberais. O PDT insiste no imperativo de inovação institucional na economia e política. E compreende que um produtivismo includente não se pode assentar nem no corporativismo de Vargas nem em seu sucedâneo pseudo-liberal. É outro nível de ambição.
7. A base social pretendida pelo PDT para sua proposta PARA país é uma aliança dos interesses do trabalho e da produção contra os interesses do rentismo financeiro e do extrativismo desindustrializante. Nas condições reais do Brasil de hoje, não pode ser a aliança estreita que sustentou o Vargas da última fase: do Estado com os trabalhadores organizados nos setores intensivos em capital. Ela tem de ganhar os emergentes, os produtores do Brasil profundo e a grande parcela da maioria pobre que já assimilou a cultura da auto-ajuda e da iniciativa. O PT nunca entrou nessa. Procurou construir na prática uma aliança enciclopédica e por isso mesmo fraca: transferências para os pobres, direitos adquiridos para as minorias organizadas, crédito subsidiado e casuísmos fiscais para os grandes empresários, juros altos para os rentistas. Necessário e difícil é atuar para abordar os brasileiros como agentes a equipar, não como beneficiários a cooptar. Essas sete diferenças justificam a tese de que o trabalhismo brasileiro que evoluiu a partir da liderança de Brizola é uma construção política genuinamente original, que não se pode entender como mera continuação de Vargas e que se contrapõe, de forma clara e contundente, à orientação do PT.