Somos motociclistas.

Eu sempre digo que você conhece as melhores pessoas em uma motocicleta. E, muitas vezes, as mais interessantes também.

Orlando é um brasileiro viajando internacionalmente em uma moto de 125cc que ele mesmo adaptou. Com seu punhado de palavras em inglês, nosso vocabulário rudimentar em espanhol e a ajuda do meu guia Roberto para entender algumas palavras em português, conseguimos ter uma conversa excelente sobre suas aventuras.

Ele anda com uma bengala e nos mostrou cicatrizes de um acidente que sofreu na Argentina apenas seis semanas atrás, no qual quebrou a perna, o pulso e vários ossos das mãos e dos pés. Obviamente, se ele está no Chile, o acidente não o impediu de seguir viagem, ainda que devagar. 

Seu orçamento é de apenas US$ 6 por dia, incluindo comida, combustível e hospedagem — o equivalente à renda que está recebendo alugando sua casa enquanto está fora. Ele dorme ao ar livre. Quando precisa pagar uma balsa, ele acampa por alguns dias até juntar parcelas de US$ 6 suficientes para pagá-la, alimentando-se de peixes que ele mesmo pesca para manter-se dentro do orçamento. Ele faz a própria manutenção da moto, vive com quase nada, e está aí vendo o mundo, aproveitando tudo, conhecendo novos amigos pelo caminho e compartilhando seu coração caloroso e seu sorriso.

Orlando teve a gentileza de mostrar para nós, companheiros de viagem (que compartilhamos a balsa com ele de Hornopirén a Chaitén), todos os equipamentos e engenhocas que criou para a sua jornada — uma bolsa de tanque magnética feita em casa, alforjes de metal com uma gaveta secreta para ferramentas, uma base de tripé que ele usa como suporte para o banco da moto e que se transforma em um banquinho para quando acampa, recipientes para armazenar ferramentas e alimentos, um filtro de água feito por ele, e mais. Tudo muito criativo e meticuloso. Ele é um inventor e engenheiro de coração.

Ele está a caminho do sul pela Carretera Austral rumo a Ushuaia e, depois, seguirá para o norte em direção à Colômbia. Seu sonho é cruzar o Darien Gap até o Panamá e continuar até o Alasca. Com ou sem orçamento, ele é um homem sem limitações porque sempre encontra um jeito de seguir em frente. Ele tem um sonho tão grande quanto qualquer outro, e a tenacidade e perseverança para torná-lo realidade.

Nosso grupo, e os outros motociclistas de longa distância que estavam lá, todos sem exceção, ficaram profundamente humildes e inspirados por seu espírito e força.

Orlando é de verdade.

Viagem feita a 2 anos atrás!

Créditos Orlando Andrus