Nunca viram o sol: leões abandonados na Ucrânia emocionam equipe no resgate
Nunca viram o sol: leões abandonados na Ucrânia emocionam equipe no resgate
Por Administrador
Publicado em 08/04/2025 10:19
INTERNACIONAL

As cenas dramáticas mostrando os efeitos da invasão russa na Ucrânia se tornaram frequentes desde que o conflito começou, em fevereiro de 2022. Além das perdas humanas e do sofrimento de muitas famílias, o que chamou a atenção de muitas pessoas foram os animais que acabaram ficando para trás na evacuação das cidades. Ao menos para cinco leões, no entanto, os dias de medo e perigo diante das bombas estão no passado.

Vítimas de maus-tratos e negligência mesmo antes de a guerra ter começado, os grandes felinos foram abrigados no Big Cat Sanctuary, localizado em Kent, no interior da Inglaterra. O centro construiu recintos novos especialmente para receber os animais após uma campanha de arrecadação que recebeu mais de 500 mil libras (cerca de R$ 3,3 milhões), valor suficiente para cobrir desde o transporte até os cuidados veterinários e as obras no santuário.

Como foi o resgate

A reunião dos leões Rori, Amani, Lira, Vanda e Yuna no santuário marca o fim de uma trabalhosa missão de resgate que durou dez meses e envolveu uma complexa operação internacional. 

Santuário mobilizou profissionais especializados em transporte de animais e montou equipes para realizar supervisão veterinária contínua e checagens rigorosas de bem-estar em cada etapa do trajeto

Santuário mobilizou profissionais especializados em transporte de animais e montou equipes para realizar supervisão veterinária contínua e checagens rigorosas de bem-estar em cada etapa do trajetoImagem: Big Cat Sanctuary.

Yuna, de três anos, foi a primeira a ser transferida, em agosto de 2024. Os outros quatro (que têm entre dois e três anos) chegaram em março de 2025, após uma jornada de 12 horas por estradas e balsa, saindo de abrigos temporários na Bélgica.

"Transportar grandes felinos através de fronteiras internacionais envolve uma logística complexa, com regulamentações legais rigorosas", afirma Cameron Whitnall, diretor do Big Cat Sanctuary, em entrevista ao UOL.

Video Abaixo instagram.

 

https://www.instagram.com/reel/DHtF4SRNeje/?utm_source=ig_embed&ig_rid=ed157180-eade-4f5c-93d8-7cb6ef73578b

Ele lembra que, além do trabalho burocrático, como licenças e laudos veterinários para transporte, havia ainda "considerações significativas de segurança" a serem consideradas durante todo o trajeto. "Foi preciso conduzir veículos em um país em guerra, garantir a segurança dos leões e da equipe nas áreas de alto risco e ainda lidar com mudanças constantes nas políticas de fronteira por causa do conflito", diz.

 Whitnall explica que, visando garantir a segurança de todos os envolvidos, os resgates foram realizados em parceria com organizações internacionais de proteção à vida selvagem e as autoridades competentes em cada localidade.

Rori, o único macho do grupo, vivia em uma coleção particular de animais exóticos e acredita-se que era usado para reprodução ilegal

Rori, o único macho do grupo, vivia em uma coleção particular de animais exóticos e acredita-se que era usado para reprodução ilegalImagem: Big Cat Sanctuary

 

Vítimas da guerra e do tráfico ilegal

Os leões foram encontrados não em zoológicos, mas sim próximos à linha de frente do conflito, abandonados e em estado crítico de saúde (física e mental). Vítimas do tráfico de animais silvestres e do comércio ilegal de pets exóticos, eles jamais haviam vivido em ambientes apropriados.

"Ao chegarem, alguns apresentavam sinais de fraqueza muscular, enquanto outros tinham sintomas neurológicos, possivelmente relacionados a deficiências nutricionais da fase inicial da vida ou traumas psicológicos", explica Whitnall. "São as consequências das condições extremas a que foram submetidos", lamenta o diretor do santuário.

 Além disso, os leões também apresentavam comportamentos típicos de estresse pós-traumático, como balançar o corpo repetidamente ou se manterem em estado constante de hipervigilância.

Quatro dos cinco leões jamais haviam pisado na grama antes da chegada ao Reino Unido

Quatro dos cinco leões jamais haviam pisado na grama antes da chegada ao Reino UnidoImagem: Big Cat Sanctuary

Yuna, a primeira a chegar ao santuário, tem cerca de três anos e passou a vida em um cercado de concreto de apenas 12 m². Estava em estado de choque após destroços de mísseis caírem a menos de 300 metros de sua jaula. Ao ser resgatada, não conseguia ficar de pé devido a uma concussão causada por bombardeios intensos na área em que vivia.

Rori, o único macho do grupo, também tem cerca de três anos. Ele vivia em uma coleção particular de animais exóticos, onde se acredita que era usado para reprodução ilegal. Assim como Yuna, ele também não conseguia se levantar, provavelmente em decorrência de trauma causado por bombardeios.

As irmãs Amani e Lira, ambas com cerca de três anos, foram criadas ilegalmente e usadas como atração turística para fotos com visitantes quando ainda eram filhotes.

 Já Vanda, a mais jovem do grupo, foi resgatada com apenas 18 meses, extremamente desnutrida e infestada de parasitas, após passar a vida trancada em um apartamento, sem acesso ao sol.

Segundo o santuário, quatro dos cinco leões jamais haviam pisado na grama antes da chegada ao Reino Unido, o que tornou seus primeiros passos no novo lar ainda mais simbólicos.

O vídeo de Yuna, a primeira a chegar, explorando a nova casa, levou às lágrimas Whitnall, que não esconde o laço importante que desenvolveu com a leoa nos últimos meses.

 

"Passando tanto tempo com eles, é difícil não criar um vínculo. Eu a visito quase todos os dias para ver como ela está se adaptando", diz. "Acompanhar sua evolução de uma leoa tímida para uma leoa confiante e curiosa tem sido uma experiência extremamente gratificante e inspiradora para todos nós", afirma.

"Passando tanto tempo com eles, é difícil não criar um vínculo. Eu a visito quase todos os dias para ver como ela está se adaptando", diz. "Acompanhar sua evolução de uma leoa tímida para uma leoa confiante e curiosa tem sido uma experiência extremamente gratificante e inspiradora para todos nós", afirma. 

Um novo começo

Os recintos onde os leões irão viver a partir de agora foram projetados para atender às necessidades individuais de cada animal. Yuna e Rori, por exemplo, que apresentam problemas de coordenação, ficam em ambientes com declives suaves e sem plataformas elevadas, para evitar quedas.

Amani e Lira

Amani e Lira

 

Imagem: Big Cat Sanctuary

 

Amani e Lira têm árvores para escalar e explorar juntas, já que estão sempre lado a lado nas explorações. Por fim, Vanda, a mais brincalhona e sociável entre os felinos, terá um amplo espaço e até uma área com água para se divertir

"Com o tempo, por meio de reforço positivo e uma rotina estável, eles estão começando a se sentir mais seguros no novo ambiente e poderão se recuperar dos traumas que viveram", afirma Whithall.

Por enquanto, os animais ainda estão se aclimatando aos novos recintos. Mas o plano é que, a partir de julho, o público possa visitar o santuário durante os dias de visitação. "Seguiremos divulgando o trabalho do santuário e a importância da conservação dos grandes felinos", afirma o diretor.

"Com o tempo, por meio de reforço positivo e uma rotina estável, eles estão começando a se sentir mais seguros no novo ambiente e poderão se recuperar dos traumas que viveram", afirma Whithall.

 

Por enquanto, os animais ainda estão se aclimatando aos novos recintos. Mas o plano é que, a partir de julho, o público possa visitar o santuário durante os dias de visitação. "Seguiremos divulgando o trabalho do santuário e a importância da conservação dos grandes felinos", afirma o diretor.

 

Leões foram abrigados no Big Cat Sanctuary, localizado em Kent, no interior da Inglaterra

Leões foram abrigados no Big Cat Sanctuary, localizado em Kent, no interior da Inglaterra

 

Imagem: Big Cat Sanctuary

O resgate dos leões foi coordenado em parceria com o Wild Animals Rescue Center, administrado pela ucraniana Natalia Popova, que desde a invasão russa em 2022 já salvou centenas de animais abandonados — de leões e tigres a macacos, cervos e lobos — em um abrigo montado nos arredores de Kiev.

 Ela não é a única a trabalhar para salvar os animais da zona de conflito. A organização Peta (People for Ethical Treatment of Animals) afirma que já resgatou mais de 22 mil animais desde o início da invasão russa.

Já a IFAW (International Fund for Animals Welfare) declarou que ajudou mais de 103 mil animais oferecendo comida, suprimentos e serviços veterinários, além dos resgates realizados em áreas de risco.

Video abaixo instagram. 

https://www.instagram.com/reel/DHtF4SRNeje/?utm_source=ig_embed&ig_rid=ed157180-eade-4f5c-93d8-7cb6ef73578b

 

 

 

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