(em atualização)
Dirigindo-se ao país, após uma reunião entre o Gabinete de Segurança de Israel, com autoridades libanesas, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, explicou que um dos motivos para aceitar o plano foi potenciar o regresso a casa dos cidadãos israelitas do norte.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, irá pronunciar-se sobre este acordo ainda esta terça-feira, pelas 19h30.
Netanyahu garantiu ainda que o Hezbollah "já não é o mesmo". "Fizemos-los recuar dezenas de anos", afirmou.
Ao abrigo da proposta, Israel terá de retirar as suas Forças de Segurança das áreas que ocupou no sul do Líbano para combater as milícias xiitas libanesas do Hezbollah. Em troca, estas comprometem-se a recuar para norte do Rio Litani, a cerca de 25 quilómetros da fronteira israelita.
A área intermédia ficará sob responsabilidade de uma força de cinco mil soldados das forças armadas libanesas.
Beirute já aprovou o plano. À agência Reuters, o vice-presidente do Parlamento do Líbano garantiu prontidão para o implementar, mal Israel anuísse.
Na semana passada, num discurso televisionado, o novo líder do Hezbollah, Naim Qassem, pareceu ter dado igualmente luz verde à proposta norte-americana, num compromisso tácito mas não frontal.
O que propõe o plano
A proposta norte-americana pouco difere da resolução 1701 acordada em agosto de 2006, na qual se baseia, e que originou tréguas de 18 anos entre o Hezbollah e Israel. Na altura, constituiu-se uma força das Nações Unidas, a UNIFIL, em apoio ao exército do Líbano, que seria agora reforçada.A missão da UNIFIL era garantir que nenhuma outra força militar além destas, legitimadas pelo Direito Internacional, permanecesse a sul do rio Litani. A resolução previa igualmente o desarmamento dos grupos armados, incluindo o Hezbollah, algo que nunca foi implementado. O Líbano acusou Israel de violar várias vezes a resolução através de patrulhas aéreas.
As tréguas de 2006 foram quebradas pelo Hezbollah em outubro de 2023, em apoio ao grupo islamita palestiniano do Hamas. Os ataques com morteiros das milícias xiitas duram há mais de um ano e forçaram milhares de israelitas a abandonar as suas casas junto à fronteira.
Nas últimas semanas o conflito bilateral reacendeu-se, depois de Israel ter dado início a uma ofensiva aérea e terrestre no próprio Líbano, contra o Hezbollah mas com repercussões graves na população civil libanesa.
No seu avanço, os militares israelitas afirmam ter detetado e destruído diversas posições e bastiões do Hezbollah na área vigiada pela UNIFIL, em violação da resolução 1701.
A proposta dos Estados Unidos inclui a criação de um comité internacional para monitorizar a aplicação do acordo, liderado pelos Estados Unidos. Josep Borrell, alto representante da União Europeia para a Política Externa, esta terça-feira, defendeu os planos, considerando que asseguram todas as garantias de segurança necessárias para Telavive.
Reticências israelitas
O ceticismo de que os termos do cessar-fogo serão cumpridos afeta membros do executivo israelitas, como Itamar Ben-Gvir. O ministro da Segurança Interior na coligação de Benjamin Netanyahu afirmou-se francamente contra um cessar-fogo que implique o recuo militar israelita.
Em entrevista à rádio Kan, Ben-Gvir considerou que "será uma oportunidade histórica perdida se pararmos tudo e voltarmos atrás", não só no Líbano, contra a milícia xiita, mas também em Gaza, contra o Hamas.
Em contraste, o líder da oposição israelita, Benny Gantz, rejeitou um cessar-fogo temporário e afirmou que Israel devia aproveitar qualquer acordo com o Hezbollah para "mudar fundamentalmente a situação no norte". O acordo agora alcançado poderá ser nesse sentido demasiado fraco para Gantz.
"Não devemos perder a oportunidade de um acordo forte", defendeu, lembrando todos os sacrifícios de Israel nos últimos meses.
Dúvidas e mais dúvidas
Mesmo com a anuência israelita, a proposta não seria fácil de implementar, mesmo por meros 60 dias, sendo o Hezbollah, que ainda não se pronunciou, uma enorme pedra no sapato do entendimento israelo-libanês.
Outras questões são as dúvidas logísticas e operacionais. O exército libanês já disse que não tem recursos - dinheiro, pessoal nem equipamento - para cumprir as suas obrigações de vigilância e segurança.
Se a comunidade internacional decidir complementar estas falhas, a missão libanesa permanece um risco, uma vez que os termos do acordo não estabelecem para já se o exército libanês terá como obrigação confrontar as milícias xiitas, caso estas violem o acordado. Se sim, a luta poderá exarcebar gravemente as tensões sectárias internas no Líbano.
Alguns relatos sugerem que os EUA vão apoiar o direito de Israel a agir em território libanês caso o Hazbollah viole os termos do acordo. Condição não incluída na proposta e que poderá ser tornada pública posteriormente.
A hipótese tem sido consistentemente rejeitada por Beirute como violação da sua soberania. Mas Israel já prometeu que, com ou sem garantias, se reserva o direito de agir em caso de ameaça, como já o faz na Síria.