Curitiba: novas denúncias de estelionato contra o vice de Cristina Graeml
POLITICA
Publicado em 24/10/2024

 

Alvo de processos por golpes financeiros (leia ao final da reportagem), o candidato a vice-prefeito na chapa de Cristina Graeml (PMB) à Prefeitura de Curitiba, Jairo Filho (PMB), é acusado por dois  empresários paranaenses de aplicar novas fraudes, desta vez com falsas promessas de empréstimos. As denúncias estão sendo apuradas pelo Polícia Civil do Paraná. 

De acordo com ambos os relatos, aos quais VEJA teve acesso, Jairo se passou por representante da Fomento Mais, empresa que prometia fazer a articulação de pequenos e médios empresários junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para viabilizar empréstimos, que nunca aconteceram de fato. 

O empresário Erilton Fernando Ferreira diz que conheceu tanto Jairo quanto o presidente da empresa, Alceu Tavares, e que ambos fizeram a oferta de um empréstimo FGI — fundo garantidor do BNDES   que tem como objetivo facilitar o crédito a pequenos e médios empresários –, mediante um “investimento” de 5% do valor contratado. 

Segundo Erilton, a Fomento Mais teria levantado mais de 3,3 milhões reais referentes à “taxa” de 5% de investimento cobrada pela dupla a diferentes clientes e que Jairo teria recebido duas parcelas de 20.000 reais de “comissão” de Alceu pelos clientes captados. 

Já o empresário João Francisco Ribeiro, do ramo de tecnologia em eventos, diz que entrou em contato com a Fomento Mais para viabilizar um empréstimo, também junto ao BNDES, visando fazer investimentos em equipamentos, veículo, contratação de funcionários e compra de galpão para instalar a empresa. Segundo Ribeiro, Jairo disse que Alceu tinha “contatos” dentro do banco público e que facilitaria a  aprovação do crédito. 

A promessa, diz ele, foi de uma cédula de crédito de 14,5 milhões de reais mediante um adiantamento de 5% desse valor — 725.000 reais — para “pagar o FGI e liberar o crédito”. Ainda segundo o empresário, Jairo afirmou que, destes 5%, o percentual de 1,5% era “realmente FGI”, e que os 3,5% restantes eram para “abrir as portas” e “pagar as pessoas que assinam”. 

À época, diz Ribeiro, Jairo já era candidato a vice-prefeito e, por ter uma “vida pública”, confiou que não haveria problemas na transação. “Investi 725.000 reais, fiz propostas em imóveis  contando com esse dinheiro, várias coisas que esses projetos bagunçaram totalmente a minha vida e da minha empresa”, diz o empresário. “Você fica triste, chateado, com raiva. Mas impotente é a palavra certa. Na emoção, fui iludido”, afirma. 

O empresário diz que, após os resultados do primeiro turno das eleições, que mostram uma disputa entre Cristina Graeml e Eduardo Pimentel (PSD), tentou pressionar Jairo pela devolução de ao menos uma parte dos recursos. “Ele não deu nenhum suporte, simplesmente deixou a gente a ver navios”, diz. 

De acordo com Ribeiro, ele tem a confissão de dívida de Alceu, suposto dono da Fomento Mais, e já executou a dívida, com prazo de pagamento para o dia 22 deste mês. Até agora, teve como depósito 30.000 reais de “garantia” de que terá a quitação dos valores. 

Outros processos

Além das denúncias, Jairo responde a ao menos três processos por aplicar supostos golpes financeiros em esquemas similares a pirâmides financeiras, com promessas de retornos ilusórios O prejuízo calculado às vítimas chega a mais de 1,3 milhão de reais, de acordo com ações  consultadas por VEJA junto à Justiça do Paraná. 

A ação mais vultosa é movida por uma aposentada de 67 anos de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. A idosa afirma que, em 2021, Jairo ofereceu a ela uma oportunidade de investimento  em sua sociedade de advocacia com promessas de rendimento de 2,5% ao mês. A aposentada fez um aporte de 400.000 reais e, por quatro meses, recebeu os rendimentos combinados. Desde meados de 2022, no  entanto, diz que parou de receber os pagamentos e afirma que não teve mais resposta do advogado. No processo, a idosa juntou documentos como a confissão de dívida e promissórias que comprovam a operação   realizada. Ela afirma ainda receber apenas um salário mínimo de benefício por mês. A ação de apropriação indébita e estelionato contra Jairo pede pouco mais de 1 milhão de reais em indenização e danos.

Outro processo diz respeito à empresa Leilão Money, que tem Jairo como proprietário e que oferecia aos clientes investimentos em imóveis à venda em leilões. Uma moradora de Brasília ingressou com um  processo contra o advogado após aportar 185.000 reais junto à empresa, em 2021. Segundo a ação que pede indenização e a devolução do dinheiro, as promessas eram de juros remuneratórios de 2% mensais,  perfazendo o valor de 3.700 reais de rendimentos por mês. 

A autora afirma que, a partir de maio de 2022, a Leilão Money deixou de pagar os rendimentos e que a empresa não devolveu o aporte inicial conforme o estipulado em contrato, que determinava o prazo como dezembro daquele ano. A vítima pede 214.600 reais relativos a juros e à restituição do investimento inicial. 

“Diante da incerteza e risco eminente de perder todo o valor investido quando da formalização do referido negócio, além da incerteza concernente ao recebimento dos valores que foram pagos, a requerente não vislumbra alternativa, a não ser ingressar com a presente ação”, diz o processo.

Em relação à mesma Leilão Money, Jairo foi condenado neste mês pela Justiça do Distrito Federal a ressarcir a quantia de 90.000 reais, mais juros, a uma cliente que fechou, com sua empresa, um contrato que não foi cumprido. Na ação, a vítima diz que formalizou um contrato de locação de veículo com a Leilão Money por 90.00 reais e que a quantia seria devolvida ao final do período de locação por um sistema de “cashback integral”. De acordo com o relatado, a empresa combinou de locar o carro em uma locadora e arcar com as despesas do contrato, que ela mesma pagou o valor a um sócio de Jairo, mas que teve o veículo bloqueado pela locadora por falta de pagamento do aluguel.

O terceiro processo diz respeito a um esquema similar de pirâmide financeira. Um servidor público de Curitiba alega que, no início de 2019, fez uma transferência de 89.000 reais para Jairo, para que o advogado aportasse o valor em uma empresa chamada Clubens, que também prometia retornos financeiros. Depois de seis meses, o homem diz que pediu um posicionamento de Jairo sobre a evolução do suposto investimento, mas sem retorno concreto. Afirma que, em julho do mesmo ano, conseguiu se encontrar com o advogado, que reconheceu a dívida e se comprometeu a pagá-la dentro de doze meses.

 Como forma de remediar o prejuízo, aceitou fazer um acordo para abater parte da dívida de um imóvel que ele alugava do advogado, no valor de 1.200 por mês. A tratativa foi mantida por seis meses. Só depois de mais de um ano, e após muita insistência, afirma a vítima, Jairo passou a fazer pagamentos mensais irregulares de cerca de 1.500 reais por mês. O servidor pede cerca de 96.000 reais corrigidos, com mora e excluídos os valores já pagos.

Outro lado Procurado, Jairo Filho ainda não se pronunciou sobre as denúncias envolvendo empréstimos junto ao BNDES que estão sendo apuradas pela Polícia Civil. O espaço segue aberto para manifestação.

A respeito do processo da moradora de Brasília que afirmou ter aportado 185.000 reais na Leilão Money, o candidato diz que “nada tem” com esse fato e que não conhece a denunciante. Ele ainda apontou um terceiro como possível culpado. “Abri essa empresa com um rapaz de Goiânia e ele utilizou o CNPJ para fazer contratos sem meu conhecimento e nem consentimento, desrespeitando o contrato social, de modo que sou parte ilegítima nesses autos”, diz o advogado, acrescentando que acionará o sócio na Justiça.

Já em relação ao servidor público que afirma ter feito um investimento na empresa Clubens, Jairo afirma que houve desistência do autor do processo e que o mesmo, inclusive, é apoiador político da candidatura de Cristina Graeml em Curitiba.

No caso da aposentada de São Bernardo do Campo, Jairo diz que ainda não foi citado, mas que, fazendo uma “análise superficial”, a acusação está “totalmente prescrita e com uma fundamentação jurídica péssima e difamatória, distorcendo totalmente os fatos”.

Ele explica que a negociação em questão foi um contrato de empréstimo de 2019 que está em atraso devido a um desacordo em relação aos juros cobrados e forma de pagamento. Ele ainda credita o atraso aos efeitos da “grave crise financeira” em decorrência da pandemia. “Trouxe a zero o meu faturamento e fez com que outros negócios que tinha não avançassem”, afirma.

 

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