Oportunidade única: fique rico tendo filhos
Opinião
Publicado em 10/06/2024

Alceu A. Sperança

 

O grande drama do Brasil de hoje está longe do que as bolhas ingenuamente supõem. Não tem a menor importância a matreirice de um Lula ou a grosseria de um Bolsonaro.

O que vem das eleições é coisa que fede, mas não cheira, já que os verdadeiros donos do país estão ocultos e mandam em segredo. As obsessões das bolhas só disfarçam, distraem e mascaram a realidade que o biombo da política esconde.

Problema real, por exemplo, é o envelhecimento da população. Os bebês precisam de pais saudáveis, mas as bolhas ofensivas ou bajuladoras criam doentes mentais de dois tipos: os adoradores, que não veem erros, e os odiadores, que não veem acertos.

Crianças precisam ter o melhor desenvolvimento, mas isso não acontece com famílias destroçadas por conflitos. Jovens teriam que parar de morrer de crime, carro, guerra ou vício, mas morrem cada vez mais.

Quem ultrapassa a barreira dos 50 anos teve a sabedoria suficiente para envelhecer aos trancos e barrancos, trabalhando até em mais de um ofício ou empreendedorando sob risco.

Risco, aliás, permanente, pois os sobreviventes continuam sempre expostos aos perigos de crime, carro, guerra ou vício. Podem enfartar do ócio prematuro da desocupação, pirar com as doenças mentais das bolhas "ideológicas" e se expor a doenças que mesmo curadas deixam sequelas, como a Covid, Aids, dengue etc.

É muito risco e pouco benefício para uma vida bem vivida. É preciso mais. Velhos precisam tudo do bom e do melhor.

 

"Pare de tomar a pílula" (Odair José)

O Brasil vai levando e resistindo, mas produz pouco aquilo que mais precisa: bebês saudáveis, crianças com desenvolvimento adequado para a idade e jovens que escapem da morte prematura, da ignorância crônica, das balas assassinas, das guerras alheias e de ter a vida desperdiçada em prisões.

Pior que o Brasil está o Paraná, mesmo com todas as pesquisas de popularidade atestando que os governantes de hoje são os mais queridos da história.

O pesquisador de coisas sérias Júlio Suzuki, do Ipardes, alertou a Assembleia Legislativa que em 2000 nenhum município do Estado tinha mais de 20% da população na faixa idosa. Hoje, quase a metade dos municípios já passou dos 20%. Logo serão quase todos.

"Nossa estrutura etária é ainda mais envelhecida que no restante do país, o que mostra que precisamos implantar ações mais precocemente no Paraná", disse Suzuki aos deputados. 

Aí que até um dos piores exemplos de mau gosto artístico se arrisca a voltar à cena: "Pare de tomar a pílula" (https://youtu.be/OGD9j7Emjl4), horrenda canção de Odair José proibida pelo regime militar por incentivar relações sexuais, veja só, precisará voltar a tocar nas emissoras de rádio, feiras e pagodes.

Ter bebês, cuidar da infância e garantir que não morram jovens tende a ser a principal política de todos os governos.

 

"Seja patriota, transe sem se cuidar"

Quem ignorar esse problema vai chorar, como chorou há pouco o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, ao implorar à população que tenha mais filhos. Ele está criando um ministério do tipo "seja patriota: transe sem camisinha".

Por lá, o governo investe uma fortuna para estimular o aumento da natalidade. Ainda assim a taxa de fecundidade caiu: é preciso que cada mulher tenha no mínimo dois filhos, mas de cada duas mulheres uma já não os tem e a outra está pensando em não ter mais.

A Coreia paga 70 mil dólares para cada bebê que nasce. A Suécia trata os bebês a pão-de-ló: tem a melhor política para nascituros do planeta, mas nem assim as mulheres estão dispostas a ter mais filhos.

É preciso aumentar a oferta: 100 mil, 200 mil? Mas quem vai bancar os custos extras? Pensam em cortar as aposentadorias dos sobreviventes e manter os velhos trabalhando.

Mais dinheiro por mais bebês pagos pelos velhos também vai requerer uma política de rejuvenescimento deles, se bem compreendemos a proposta básica de Suzuki. Merecem do bom e do melhor, lembre-se.

 

Vai fazer filho ou ver TV?

Não estranhe se algum candidato a vereador venha lhe sussurrar, na campanha eleitoral que se aproxima: "Volte à ativa, faz aí uns três filhinhos extras e a gente te devolve a aposentadoria".

Como no capitalismo é o vil metal que manda, dar dinheiro para as mulheres terem dois ou mais filhos cada uma será a única opção para compensar as baixas causadas pelos orçamentos militares mundo afora, com Jovens morrendo toda hora sem piedade.

Os capitalistas de alto coturno estão desesperados. Donald Trump, além de casos extraconjugais patrióticos, para aumentar a população pensa em dar um bônus à mulherada que engravidar. Elon Musk teme que a raça humana esteja em vias de desaparecer por conta da falta de bebês.

Como não basta criticar, é preciso sugerir soluções. Oferecer um bom incentivo em milhares de dólares para a velharada sair e namorar patrioticamente no sentido bíblico? Um "vale-noitada" toda noite?

Se eles ficarem todo o tempo vendo TV e séries que nunca têm fim, seus ricos filhinhos nunca vão nascer.

É uma ordem: ignore as bobagens das bolhas e rejuvenesça com bom humor, boa música, tudo do bom e do melhor, como sempre deveria ser.

Se os bebês merecem 70 mil, 100 mil ou 200 mil dólares só por nascer, você deveria merecer muito mais por aguentar toda essa barra desde seu nascimento. (Ilustração: Mescla)

 

Alceu A. Sperança é escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br

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