J. J. Duran
Para vencer uma eleição complicada como a que o consagrou como novo presidente argentino, o triunfante libertário Javier Milei contou com o fanatismo da juventude liberal platina. E foi determinante para isso sua forma debochada de tratar como algo desprezível a classe política, à qual também pertence.
Descaracterizado do figurino de outros presidentes, usou como nenhum antecessor do discurso raivoso e gestos histriônicos para convencer, principalmente a juventude, de que a Argentina irá deixar para trás 40 anos de populismo peronista-sindical, porém omitiu o fato de que seu governo vai marcar a chegada ao poder da República do sionismo populista libertário selvagemente liberal, de acordo com seu próprio receituário ideológico.
A Argentina hoje é um país com grandes contrastes socioculturais e uma economia em frangalhos, e no seu comando Milei terá que enfrentar grandes óbices para aprovar no Parlamento, onde tem minoria, seu plano transformador de uma economia estadista em uma economia de mercado.
Como vários outros países indo-americanos, a Argentina é vítima de emoções que a limita politicamente, criando e recriando líderes messiânicos cujas ideologias, via de regra, se limitam às ruidosas manifestações de rua, sem resultado concreto.
Milei convenceu o eleitorado majoritário argentino a votar nele se apresentando como a única opção para evitar o suicídio coletivo, mas agora é necessário provar isso.
E para provar terá que enfrentar os núcleos inscrustrados na máquina governamental pelo ex-presidente Mauricio Macri, bem como os poderosos sindicatos personalistas e seus famigerados e violentos piqueteiros de rua que, junto a um Parlamento com oposição majoritária ao governo de plantão, sempre representaram um feroz desafio para qualquer tentativa de limitar os exorbitantes benefícios outorgados pelo Estado em detrimento do aparato produtivo e da realidade econômica nos tempos do peronismo.
Em resumo, para atingir seu intento Milei terá que escalar uma íngreme e perigosa encosta e ser o que sempre criticou na casta política.
"Balada para um louco" é o tango dos tangos argentinos do século XX. Vamos ver no que isso vai dar, pois já diz um velho ditado que "o sol queima onde a ferida sangra". (Foto: Wikipedia)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná