O Fórum de ESG (Environmental, Social and Governance), realizado durante a Tecnocarne 2023, na Arena de Conteúdo do evento, no último dia 28 de junho, levantou os desafios do mercado da carne para atender às demandas por sustentabilidade na produção. Ao longo de dois dias, especialistas falaram sobre os avanços na produção, os exemplos de bem-estar animal e a legislação nacional.
Os desafios do setor para manter o compromisso de zerar o desmatamento foi abordado pelo diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Fernando Sampaio, que começou questionando se o Brasil conseguirá atender à demanda mundial, principalmente dos países asiáticos, de forma sustentável.
Segundo ele, esse é o maior desafio do país, conseguir comunicar para o mundo que dá para fazer isso. Para tanto, ele destaca dois ângulos distintos: a eficiência na produção e o fim do desmatamento.
Eficiência de produção e zerar desmatamento
A eficiência na produção já é uma realidade. A área de pastagem está encolhendo. Nos últimos 30 anos, a produção de carne cresceu 109% e a área de pastagem recuou 14,7%. Esse crescimento, baseado em avanço de tecnologia, evitou que 239,3 milhões de hectares fossem desflorestados.
Sampaio disse que é possível melhorar ainda mais essa eficiência e, ao mesmo tempo, reduzir emissões, já que o país está encurtando o ciclo do gado e recuperando pastagens, o que ajuda a sequestrar carbono e reduzir emissões.
Logo, complementou o diretor da Abiec, é preciso melhorar a eficiência da pecuária no uso de recursos naturais, resolver gargalos internos e avançar em mercados.
Outro desafio é o desmatamento. “Essa é uma realidade que precisamos mudar. Grande parte deste desmatamento acontece em terras que são públicas, ou seja, ele acontece de forma ilegal. O grande desafio na cadeia é separar o produtor do grileiro, que usa o boi como forma de ocupação”.
A solução desses entraves envolve a necessidade de políticas públicas que, agora, acredita Sampaio, foram retomadas com o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAM). “Se você abrir o plano, tem tudo que precisa ser feito para combater o desmatamento: tem a fiscalização, a regularização fundiária, a regularização ambiental e a análise do cadastro ambiental. O plano é o grande instrumento. Entendemos que é preciso ter políticas públicas funcionando e o setor privado fazer a sua parte”, disse.
Ele contou ainda que, desde 2009, quando chegou à Abiec, vem sendo realizado um trabalho de cruzamento de informações e os frigoríficos acabaram assumindo um papel de apoiar a regularização. Hoje, as associadas que estão na Amazônia têm um mapeamento da origem e conseguem identificar quem está dentro de uma terra indígena, ou quem usa uma fazenda ilegal.
Mas a Associação busca um nivelamento na regra do jogo. “Precisamos trazer todo mundo para dentro, ou acabamos criando um mercado secundário que pode ser ainda pior”.
Outro desafio apontado pela Abiec é a necessidade de juntar a informação sobre o trânsito do boi e a desse monitoramento sócio ambiental. “Hoje, não tem transparência nessa informação. Não conseguimos enxergar onde o boi passou. O governo nos cobra, mas não dá acesso a essa informação. A discussão sobre a rastreabilidade é a principal dentro da Abiec. Precisamos ter uma política pública para isso, um plano de implementação. Entendemos que o país tem de expandir a rastreabilidade individual, não só para questões ambientais, mas também de controle sanitário”, detalhou.