A carne suína brasileira ainda é exportada como commodity. No entanto, mercados que valorizam a qualidade devem se abrir nos próximos anos e, depois do "boi China", será a vez do "suíno Japão". A aposta é da empresa de genética Topigs Norwig, que investiu R$ 40 milhões em uma granja de bisavós (que cria as mães das matrizes que produzem os animais abatidos), inaugurada em Lages (SC) nesta segunda-feira (11/12).
O projeto fortalecerá a qualidade da suinocultura nacional e colocará o país como um centro de excelência para exportação de genética, em um momento em que unidades no Hemisfério Norte são ameaçadas pela proximidade das doenças.
“Dá para imaginar o tamanho do risco se tivermos um problema sanitário em países do qual importamos genética? O que faríamos? Então, será mais um hub de exportação de genética”, disse Adauto Canedo, diretor de negócios e marketing da companhia, em entrevista ao Valor.
O mercado brasileiro é um dos cinco principais para a Topigs no mundo. A empresa detém 34% de participação em genética suína no país, além de ser um dos maiores exportadores para a América Latina.
As primeiras bisavós devem ser alojadas no segundo trimestre de 2024, o que deve garantir uma oferta de matrizes em aproximadamente um ano. A capacidade da granja é para mil animais.
Dentre as bisavós haverá alguns de sangue duroc, uma raça típica da Noruega que tem coloração e marmoreio melhores do que os proporcionados pelas genéticas mais comuns no Brasil.
Anunciado em dezembro de 2022, o investimento da Topigs chama atenção pelo momento: a suinocultura brasileira passou por dois anos complicados, de preços baixos e custos bastante elevados. Este ano, as cotações dos grãos começaram a cair no primeiro trimestre, mas, devido aos estoques, os produtores só foram sentir a redução de fato no meio do ano.
“Alguns produtores já estão conseguindo fechar no azul. O ânimo do setor retornou, e há aumentos de produção e mudanças no cenário de médio e longo prazo”, afirmou Canedo.
Como consequência do cenário adverso, a receita da Topigs no Brasil, que cresceu 400% desde 2015, para R$ 200 milhões, deve ter um aumento menor este ano.
De acordo com o diretor da companhia, as crises na suinocultura levaram a consolidação do segmento em granjas e empresas mais eficientes, aos moldes do que acontece em outros segmentos, como o leite. Ele acredita que o trabalho agora é mostrar aos mercados que pagam por qualidade os diferenciais da produção brasileira.
“Em algum momento, a suinocultura vai receber por qualidade. Já vimos isso no boi e veremos também no suíno. As empresas precisam ser mais marqueteiras, porque muitos mercados vem aqui procurando padrão e não querem pagar por esse padrão”, disse.
O executivo frisou que o Chile, que produz menos, exporta toda sua carne para mercados de alto valor agregado e depois adquire proteína brasileira para manter seu mercado interno.