A Cirurgia e o “Show de Truman” Bolsonarista
O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia recentemente. Até aí, um fato de saúde que deveria ser tratado com a discrição inerente ao tema. No entanto, o que vimos foi a tentativa de converter um corredor de hospital e uma cela da Polícia Federal em palanques políticos. O clã Bolsonaro, especialista em dominar a narrativa das redes sociais, tentou pintar um quadro de perseguição implacável.
A narrativa de que o ministro Alexandre de Moraes estaria agindo como um “ditador” ao impor restrições foi a tônica dos discursos inflamados de Flávio Bolsonaro. O senador, frequentemente associado ao escândalo das “rachadinhas”, surgiu na linha de frente, lendo cartas e insuflando uma militância que parece cada vez mais desconectada da realidade jurídica do país. A tentativa de vitimização, contudo, encontrou um obstáculo intransponível: a ética profissional da equipe médica.
Diferente do que o setor de propaganda do PL esperava, os médicos que atenderam o ex-presidente mantiveram uma postura estritamente técnica. Questionados se a cela da PF prejudicaria a recuperação, a resposta foi um balde de água fria nos teóricos da conspiração: o tratamento seguirá os protocolos de segurança e saúde, sem a necessidade das regalias “suíças” que a família parecia exigir. O contraste é irônico: para os presos comuns, o “rigor da lei”; para o “capitão”, a exigência de um tratamento que beira o privilégio aristocrático.
Messianismo de Conveniência: O Filho como Sacrifício
Talvez o ponto mais bizarro desta semana tenha sido a carta divulgada por Bolsonaro, na qual ele, de forma implícita e audaciosa, compara sua trajetória à narrativa bíblica do Natal. Ao sugerir que está “entregando o próprio filho” (Flávio) para a missão de salvar o Brasil, Bolsonaro cruza a linha entre a política e o delírio messiânico.
Essa estratégia de se comparar a uma divindade ou a figuras bíblicas não é nova, mas ganha contornos dramáticos quando usada para tentar manter o controle de um grupo político que começa a se fragmentar. O “Heraid do Centrão” e a extrema-direita estão em uma encruzilhada. Vera Rosa, renomada colunista, captou bem o espírito da coisa: é uma tentativa desesperada de manter o comando através do medo e da fé cega, enquanto as instituições democráticas avançam sobre fatos concretos e crimes investigados.
Malu Gaspar e a “Funcionária do Mês” da Imprudência
No campo do jornalismo, assistimos a uma performance preocupante de Malu Gaspar. Em uma tentativa de atacar o ministro Alexandre de Moraes, a jornalista tem se baseado em fontes anônimas e narrativas que, segundo observadores atentos, beiram a leviandade. O jornalismo de prestígio exige provas tangíveis, documentos que sustentem acusações de pressão sobre o Banco Central ou favorecimentos em negócios bilionários.
Ao afirmar que o ano de 2025 termina “amargo” para quem acredita na justiça contra os golpistas de 8 de janeiro, a jornalista parece ignorar que, para a democracia brasileira, ver criminosos sendo responsabilizados é, na verdade, um alento. A tentativa de pintar o ministro como um “vilão” ou “herói desnecessário” ignora o fato de que as instituições estavam sob ataque direto. O papel da imprensa é questionar, sim, mas com responsabilidade, e não servindo de eco para estratégias que visam apenas desestabilizar a ordem jurídica sob o manto do anonimato.
O Mistério dos 470 Mil Reais: Sóstenes e a Matemática Fantástica
Não podemos esquecer do “Membro do Mês” na categoria de explicações não convincentes: o deputado Sóstenes Cavalcante. A Polícia Federal encontrou cerca de R$ 470.000,00 em dinheiro vivo em seu apartamento. A explicação? A venda de um imóvel.
Ora, no Brasil de 2024, onde o monitoramento financeiro é rigoroso e as transações digitais são a regra, quem transporta quase meio milhão de reais em espécie de uma cidade para outra, por mais de 600 km, para guardar em casa? O deputado apresentou uma escritura repleta de tarjas pretas, escondendo o comprador, o valor real e a localização. É o famoso “migué” jurídico que não resiste a uma perícia básica da PF.
A internet, claro, não perdoou. Memes e críticas ácidas inundaram as redes sociais. Como alguém que declarou um patrimônio modesto em 2022 aparece com transações imobiliárias de tamanha magnitude em 2023? A matemática não fecha, e o cheiro de “caixa dois” ou lavagem de dinheiro é o que fica para o eleitorado que ainda preza pela honestidade.
Conclusão: A Realidade vs. O Mundo dos Répteis
Para coroar o surrealismo da semana, vimos setores da mídia de direita discutindo teorias de “seres reptilianos” infiltrados no poder. Quando o debate político desce ao nível de conspirações alienígenas para explicar derrotas judiciais ou políticas, é sinal de que a base intelectual desse movimento ruiu completamente.
O Brasil encerra o ano com as instituições funcionando. Bolsonaro sob cuidados médicos e judiciais, seus aliados tentando explicar o inexplicável e a democracia resistindo aos ataques de quem, no fundo, nunca a respeitou. O jornalismo sério continuará aqui, separando o fato da ficção, e a verdade das cortinas de fumaça criadas por quem teme o rigor da lei.
Continuaremos acompanhando cada desdobramento. Brasília não dorme, e nós também não.