Utilizado com larga frequência no debate político, o ditado popular que fala da existência de um jabuti em cima da árvore faz referência a uma prática useira e vezeira na vida do brasileiro quando o assunto é o mau emprego do dinheiro público. Jabuti não sobe em árvore e, portanto, se ele lá está é porque alguém o colocou. E com o infelizmente muito comum emprego desarrazoado do dinheiro do contribuinte também é assim, ou seja, sempre há por trás o que se conhece como "mão boba".

Até aqui estou me referindo ao "óbvio ululante", como deixou cunhado em seu mais famoso livro o saudoso Nélson Rodrigues, mas isso se faz necessário para entrar no tema objeto deste breve comentário, que é uma decisão desta semana do Tribunal de Contas do Paraná.

Ao julgar procedente uma representação feita por vereadores contra a administração municipal de Campo Bonito, na região Oeste, o Pleno do TCE-PR decidiu emitir recomendação dizendo que "ao contratar a realização de obras, o poder público tem o dever de fiscalizar, de forma efetiva e periódica, todas as etapas da execução contratual".

O caso se refere a supostas irregularidades na execução de uma obra de pavimentação asfáltica financiada com recursos da Itaipu Binacional em parceria com a Caixa Econômica e orçada em R$ 2,51 milhões, que apresentou sinais prematuros de deterioração, passando a ideia de que a empreiteira pode ter "vendido gato por lebre" e a Prefeitura feito vistas grossas.

O tempo vai dizer se os vereadores estão certos ou errados, mas o que chama atenção é a necessidade de, em pleno século XXI, o Tribunal de Contas fazer esse tipo de orientação, como se saber disso não fosse uma condição elementar para quem ingressa na vida pública. (Foto: Divulgação TCE-PR)