A chacina policial que deixou mais de 120 mortos no Rio de Janeiro (RJ) mostra não apenas a violência do Estado, mas também o que o sociólogo José Cláudio Souza Alves, professor da UFRRJ, chama de “estrutura financeira do crime organizado”. Em entrevista ao #ConexãoBdF, da #RádioBrasildeFato, ele defendeu que o país precisa mirar os grandes investidores que lucram com o tráfico, e não apenas as favelas.
“Quem faz partida de US$ 2 milhões de cocaína para o Brasil, para o Rio de Janeiro, não mora em uma favela. São investidores muito mais elevados”, afirma. Para ele, é necessário seguir o rastro do dinheiro. “Essa movimentação financeira vai escoar para algum lugar, não fica pairando dentro de colchões. Está depositada em estruturas financeiras muito grandes, em empresas, instituições que querem botar a mão nesse dinheiro”, aponta.
Alves critica a ausência de investigações sobre o fluxo financeiro do crime e cobra investimento em inteligência. “Tem que cruzar dados da estrutura criminal com a financeira. Não se vai fazer isso com saliva, com discurso. Tem que ter investimento pesado em pessoas, equipamentos, tecnologia, conhecimento para desenvolver isso. Isso é gasto real, não é déficit zero”, defende.
O professor cita a operação Carbono Oculto, da PF, que desarticulou esquemas de lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, como exemplo de que há capacidade técnica no país. “Quando tem vontade política, quando investe em um projeto de investigação, alcança resultados”, indica.
Para o sociólogo, a operação no Rio foi “calculada, com uma agenda política”, que transforma o enfrentamento armado em palanque. “Querem um palanque com muito sangue, muita mídia, com a bolha bolsonarista aplaudindo”, lamenta.
