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Corrupção, crime e “polarização” revelam disputa ideológica nas percepções do país
Corrupção, crime e “polarização” revelam disputa ideológica nas percepções do país
Por Administrador
Publicado em 27/10/2025 11:47
CORRUPÇÃO
Corrupção, crime e “polarização” revelam disputa ideológica nas percepções do país

A mais recente pesquisa Pulse Atlas–Bloomberg, divulgada nesta semana, mostra que a corrupção (60%), a criminalidade e o tráfico de drogas (57,3%) e o extremismo e a polarização política (21,2%) aparecem como os três maiores problemas do Brasil na visão da população.

Embora os números pareçam indicar temas de consenso, o levantamento revela mais do que um retrato de preocupações: mostra o efeito direto da disputa ideológica e midiática sobre a percepção coletiva.

No caso da corrupção, o tema volta a ocupar o topo do ranking em meio à CPMI do INSS, que virou palco de uma guerra de narrativas entre governo e oposição. A pauta, usada historicamente como arma eleitoral e instrumento de desmoralização de adversários, tem pouco a ver com a corrupção real nas estruturas de Estado e muito com a exploração política e midiática do termo.

A corrupção, por sua vez, é inerente ao sistema capitalista, pois nasce da lógica de acumulação e concentração de riquezas que o sustenta. Não é uma falha moral isolada, mas um mecanismo estrutural de funcionamento da economia e da política.

Enquanto houver a busca incessante pelo lucro e a apropriação privada do que é produzido coletivamente, haverá corrupção, pública e privada, institucional e subterrânea.

O desaparecimento da corrupção, portanto, depende do fim do próprio sistema que a gera, dessa engrenagem desigual que transforma o Estado em instrumento de interesses de poucos.

A estrutura atual, corroída por dentro, revela que a podridão não está nos indivíduos, mas na forma como o poder e o capital se retroalimentam.

Já a preocupação com criminalidade e tráfico de drogas reflete o sensacionalismo midiático e o modelo punitivista do sistema penal brasileiro, que aposta em encarceramento em massa, superlotação carcerária e repressão sem foco em inteligência. A pesquisa expõe o impacto de décadas de retórica do medo sobre a opinião pública, alimentada por noticiários e por setores que lucram com o discurso da “lei e da ordem”.

O terceiro item do ranking, extremismo e polarização política, traz um componente ainda mais emblemático. Desde que há sociedade, há disputa política, ideológica e de projetos de poder. O discurso “contra a polarização” esconde, muitas vezes, um viés ideológico de centro-direita, que tenta se vender como “moderação” para implementar reformas regressivas e retirada de direitos trabalhistas sob a aparência de racionalidade e bom senso.

Em outras palavras, a tal “terceira via moderada” é a que sorri enquanto desmonta garantias sociais, aprofundando a concentração de renda e a precarização da mão de obra. O estudo da Pulse Atlas mostra que a luta política, mesmo quando disfarçada de neutralidade, continua sendo um campo de disputa, e que a percepção de “problemas nacionais” reflete, antes de tudo, a hegemonia dos discursos que dominam o espaço público.

O levantamento, feito entre 15 e 19 de outubro, ouviu 14.063 brasileiros, com margem de erro de ±1 ponto percentual e confiança de 95%.
 
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