Estudo do Dieese, lançado em Brasília, mostra melhora em 25 de 43 indicadores, mas alerta para persistência de disparidades de raça, gênero e região
O Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades lançou nesta quinta-feira, 28, em Brasília, o terceiro Relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades 2025, produzido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Entre os 43 indicadores avaliados, 25 registraram avanços nos dados mais recentes, com destaque para meio ambiente, mercado de trabalho, educação e saúde. Houve, no entanto, três retrocessos – ligados à saúde e às condições de moradia – e oito estagnações. A conclusão é que, apesar dos progressos, as desigualdades de raça/cor, gênero e região continuam estruturais no país.
O deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) afirmou que os números não podem ser naturalizados: “Isso não são números. São pessoas”
Foto: Reprodução/Agência Câmara
O deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) afirmou que os números não podem ser naturalizados: “Isso não são números. São pessoas, histórias, memórias, mulheres, trabalhadores e crianças que precisam de um país justo, solidário, fraterno, democrático e soberano.”
Já o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, coordenador do Pacto, disse que os avanços são “muito lentos” e que a desigualdade permanece um “problema dramático”. “O Observatório tenta registrar um diagnóstico perverso da desigualdade estrutural. E, de outro lado, trazer resultados que mostrem como estamos conseguindo, gradativamente, superá-la.”
Meio ambiente e clima
O relatório mostra redução das emissões de carbono de 12,4 tCO₂ e per capita, em 2022, para 10,8 tCO₂, em 2023. O Brasil, que sediará a COP30 em novembro, também reduziu o desmatamento em 41,3% entre 2022 e 2024.
Apesar da queda geral, Acre (+31%), Roraima (+8%) e Piauí (+5%) registraram aumento no desmatamento.
Para a ativista Gisele Brito, do Instituto de Referência Negra Peregum, os dados refletem os impactos do agronegócio: “O agronegócio concentra renda e terras, gera conflitos por água e território e afeta diretamente quilombolas e indígenas, além de interromper formas de vida tradicionais.”
Educação
Houve crescimento na taxa de crianças de 0 a 3 anos em creches: de 30,7% (2022) para 34,6% (2024). A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) era de 50% até este ano, ainda não alcançada.
Clemente Ganz Lúcio, coordenador do Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades
Foto: Reprodução/Agência Câmara
A escolarização no ensino médio subiu de 71,3% para 74%, e no ensino superior, de 20,1% para 22,1%. Mas a maioria dos jovens de 18 a 24 anos ainda não está nas universidades.
As mulheres não negras lideram o acesso ao nível superior (32,4%). Já as mulheres negras representam apenas 20,3%.
Trabalho, renda e pobreza
O rendimento médio chegou a R$ 3.066 em 2024, alta real de 2,9% em relação ao ano anterior. A desocupação caiu de 7,8% para 6,6%, com reduções mais acentuadas entre mulheres (de 9,5% para 8,1%) e negros (de 9,1% para 7,6%).
Ainda assim, a desigualdade persiste: os 1% mais ricos ganham 30,5 vezes mais que os 50% mais pobres – em 2023, eram 32,9 vezes.
A proporção de pobres caiu 23,4% em 2024, segundo critérios do Bolsa Família.
Saúde
A mortalidade materna caiu de 113 mortes por 100 mil nascidos vivos (2021) para 52 (2023). Mas os números são piores no Norte (71/100 mil) e no Nordeste (59/100 mil).
Por outro lado, o feminicídio cresceu de 1.350 (2020) para 1.492 (2024), contrariando a queda geral das mortes violentas.
A mortalidade por causas evitáveis subiu de 30,6% (2021) para 39,2% (2023). Entre negros, foi ainda maior: 51,8% para homens e 37,8% para mulheres.
Entre indígenas, 7,7% das crianças estavam abaixo do peso em 2023, contra 6,7% em 2022. Além disso, o relatório registrou 208 assassinatos de indígenas em 2023, sendo Roraima (47), Mato Grosso do Sul (43) e Amazonas (36) os estados mais violentos.
Justiça tributária
Os dados do relatório reforçam a necessidade de reforma tributária progressiva. Para rendimentos acima de 20 salários mínimos, a tributação se torna regressiva. Quem ganha mais de 320 salários mínimos teve queda da alíquota média de IR de 5,43% para 4,87%.
Conclusões e alertas do relatório
Segundo a diretora técnica do Dieese, Adriana Marcolino, a desigualdade segue fortemente marcada por gênero, cor/raça e território: “Mesmo nos indicadores que cresceram acima da média, as desigualdades continuam bastante relevantes.”
Adriana Marcolino, Diretora Técnica do Dieese
Foto: Reprodução/Agência Câmara
Ela destacou a piora em áreas como moradia em áreas de risco (4,3 milhões de pessoas em 2025, 7,5% a mais que em 2023) e a maternidade precoce, que caiu, mas segue desigual entre negras (13,8% dos nascidos vivos) e não negras (7,9%).
Para Clemente Ganz Lúcio, o desafio é combinar crescimento econômico com políticas públicas que acelerem a redução das desigualdades.
Assista ao vídeo da coletiva de apresentação:
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