A ausência do senador Sergio Moro (União-PR) na manifestação bolsonarista deste domingo, 3 de agosto, em apoio à anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), provocou duras críticas de aliados do ex-mandatário, especialmente no Paraná, berço político do ex-juiz da Lava Jato.
O ataque mais contundente veio do advogado criminalista Jeffrey Chiquini, figura em ascensão no bolsonarismo paranaense, que publicou um vídeo nas redes sociais acusando Moro, ao lado dos senadores Oriovisto Guimarães (Podemos) e Flávio Arns (PSB), de “lavar as mãos” diante do que chamou de “ameaça existencial ao Brasil”.
A ira de Chiquini contra Moro
No vídeo, Chiquini defende o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e afirma que a “proteção” ao magistrado pelo governo Lula pode levar à exclusão do Brasil do sistema financeiro global, tese baseada em interpretações extremadas da chamada Lei Magnitsky, legislação dos EUA usada para sancionar autoridades acusadas de violações de direitos humanos.
“Ou Alexandre de Moraes será impeachmado, ou o Brasil será chutado do sistema financeiro global”, disse Chiquini. “O que eu não admito é que senadores do meu estado, como Sergio Moro, fechem os olhos para isso. Eles estão traindo o povo e entregando o país à ruína.”
O criminalista chegou a dizer que, caso o governo federal tente blindar Moraes, o Brasil poderá ser desconectado do sistema SWIFT, usado em operações bancárias internacionais, o que resultaria, segundo ele, em escassez de combustíveis, alimentos, insumos e a quebra da economia nacional.
Moro na linha de tiro bolsonarista
As críticas revelam o desgaste de Sergio Moro junto à base bolsonarista que um dia o idolatrava. Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Moro rompeu com o ex-presidente em 2020, mas reatou no segundo turno das eleições de 2022, e, desde então, vem sendo atacado por alas mais radicais da direita.
Sua ausência no ato de domingo é vista por bolsonaristas como mais um sinal de que o senador abandonou o campo conservador para se aproximar de um centro político que o isola da pauta extremista, hoje centrada na anistia aos réus do 8 de Janeiro e no enfrentamento ao STF.
Chiquini não poupou nem mesmo outros senadores do Paraná, como Oriovisto e Arns, ao acusá-los de se omitirem diante da “crise institucional” que, segundo ele, ameaça a soberania nacional.
Reação e silêncio
Até a publicação desta matéria, o senador Sergio Moro não havia comentado publicamente as críticas de Chiquini nem se manifestado sobre a manifestação pró-Bolsonaro. Nos bastidores, aliados de Moro classificam os ataques como “radicalização inútil” e afirmam que o senador “atua pela institucionalidade”.
Nos grupos bolsonaristas do Paraná, porém, a fala de Chiquini foi amplamente compartilhada como uma “denúncia” contra a postura de Moro, que é pré-candidato ao governo do Paraná em 2026. A cobrança é por alinhamento total com a base de Bolsonaro, uma exigência que tende a se intensificar à medida que o processo contra o ex-presidente avança no STF.
O que está em jogo
A movimentação de Chiquini sinaliza que o bolsonarismo no Paraná está se reorganizando em torno de novas figuras, dispostas a ocupar o espaço deixado por Moro no campo da direita radical. Ao mesmo tempo, evidencia o conflito interno entre o bolsonarismo raiz e ex-aliados que hoje buscam viabilidade política fora da órbita de Bolsonaro.
Para o Blog do Esmael, o episódio mostra que o desgaste de Sergio Moro com a base bolsonarista não é só retórico, é estratégico. A exclusão de seu nome dos atos de rua é um recado claro de que, no novo tabuleiro da direita, o ex-juiz virou carta fora do baralho.
