Por dentro da sombra: como vivem os pilotos do bombardeiro B-2 durante missões de 40 horas
Por dentro da sombra: como vivem os pilotos do bombardeiro B-2 durante missões de 40 horas
Por Administrador
Publicado em 25/06/2025 08:49
INTERNACIONAL
Aeronave dos EUA guarda segredos até no banheiro; rotina a bordo exige disciplina extrema e resistência física

No fim de semana, o mundo ficou conhecendo o B-2 Spirit, avião bombardeiro da Força Aérea dos Estados Unidos usado na missão de ataque contra a instalação nuclear de Fordow, no Irã.

Mas, por trás da precisão militar e da engenharia de invisibilidade, existe um lado pouco conhecido: como sobrevivem os pilotos durante uma missão de até 40 horas dentro de um dos aviões mais secretos do planeta?

Com apenas dois tripulantes a bordo, o interior do B-2 não é exatamente um espaço de conforto. A cabine tem um visual austero, quase industrial. Bancos ejetáveis desconfortáveis, painel de controles apertado, e uma pequena área nos fundos que faz as vezes de dormitório — com um único leito improvisado onde é possível dormir com um colchão inflável — compõem o cenário. Não há camas, chuveiro ou cozinha. E o banheiro? Uma espécie de vaso químico minúsculo escondido atrás dos assentos, sem privacidade e com uso limitado.

Diante disso, a preparação começa muito antes da decolagem. Os pilotos passam por semanas de treinamentos, que incluem simulações de 24 horas, estudos de sono e até sessões com nutricionistas. Tudo é pensado para evitar desconfortos durante o voo. Alimentos leves e sem gordura são a regra, como sanduíches em pão integral e sem queijo, para facilitar a digestão.

Para não depender tanto do banheiro improvisado, os pilotos são orientados a controlar rigorosamente o que ingerem. O uso de sementes de girassol como lanche ajuda a manter a atenção entre refeições, sem exigir digestão pesada. E quando o cansaço aperta, o revezamento é fundamental: um piloto assume o controle enquanto o outro se deita no leito improvisado, dormindo com fones de ouvido e máscara para bloquear o som dos motores e a luz do painel.

O B-2 Spirit, apesar de seu design futurista e capacidade de fugir de radares, tem controles manuais exigentes. Ele depende de um sistema de voo fly-by-wire, que executa os comandos dos pilotos por meio de computadores — mas requer constante vigilância e correções. Durante o reabastecimento aéreo, feito várias vezes ao longo da missão, os pilotos não conseguem ver o ponto de conexão com o avião-tanque. Tudo é feito às cegas, com os pilotos sendo guiados por sinais luminosos e marcas visuais memorizadas.

O espaço na cabine é mais amplo do que em bombardeiros mais antigos, como o B-52, que exigem até seis tripulantes. Ainda assim, não há luxo. Os dois pilotos dividem um ambiente funcional, onde cada botão e cada centímetro têm papel crítico. O clima a bordo é controlado para manter temperatura e pressão, mas longas horas de voo exigem foco mental e resistência física constante.

 

Em missões como a do ataque ao Irã — batizada de “Operação Midnight Hammer” — o voo chega a durar 37 horas, com decolagem, bombardeio e retorno sem pouso intermediário. O ataque específico contra Fordow foi feito por apenas dois dos sete bombardeiros usados. Os demais atuaram como iscas, distraindo defesas aéreas e desviando a atenção para outros pontos, como o Pacífico.

Segundo o Pentágono, os bombardeiros deixaram o Irã sem serem detectados. Nenhum míssil foi disparado e nenhum caça iraniano decolou para interceptação. Isso se deve, em parte, à capacidade furtiva do B-2, que combina desenho em formato de asa, revestimento especial, materiais compostos e emissões térmicas reduzidas.

Apesar de estar em operação desde 1997, o B-2 continua cercado de segredos. Apenas alguns jornalistas, como Jeff Bolton e Naveed Jamali, tiveram permissão para entrar em um. Em 1997, o apresentador Huell Howser ficou impressionado ao descobrir o quão apertado era o cockpit, mesmo sem os sistemas ativados — o painel foi desligado e as janelas cobertas para manter os segredos militares.

A manutenção da frota também é cercada de rigor. Os aviões são armazenados em hangares especiais, protegidos de satélites e espionagem eletrônica. Qualquer contato externo é limitado. E cada hora de voo custa cerca de US$ 65 mil (cerca de R$ 357 mil).

 

Embora o B-2 esteja próximo de ser substituído pelo novo B-21 Raider, ele continua sendo o símbolo máximo da dissuasão aérea americana. A missão no Irã provou que, mesmo com mais de 30 anos de serviço, o B-2 ainda impõe respeito — tanto pelos alvos que pode atingir quanto pelo que exige dos que o pilotam.

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