Após oito meses de investigação, a Polícia Civil do Paraná (PCPR) concluiu o inquérito sobre as explosões em silos da Cooperativa Agroindustrial C. Vale, na unidade de Palotina (PR). Três pessoas foram indiciadas por homicídio culposo e lesão corporal culposa. O acidente causou a morte de dez pessoas e deixou outras dez feridas, em julho de 2023.
A perícia realizada pela Polícia Científica do Paraná (PCPR) concluiu que a explosão foi causada por excesso de poeira no ar em conjunto com faíscas geradas pelo contato de ferramentas metálicas com o piso de concreto durante a remoção de grãos de milho derramados. Os resultados da investigação foram apresentados durante uma entrevista coletiva, nesta segunda-feira (25/3), em Palotina.
De acordo com o delegado Rodrigo Baptista Santos, durante a investigação apurou-se que era de conhecimento geral que a poeira poderia causar explosão, além disso, buscou-se identificar os responsáveis por cada setor e como as condutas contribuíram para a ocorrência. “Com isso, foi concluído que os responsáveis seriam o analista operacional, o gerente geral da unidade e o gerente de medicina e segurança do trabalho. O primeiro era responsável direto sobre as vítimas, que por diversas vezes deixou de exigir e cumprir normas previstas no Procedimento Operacional Padrão e nas normas trabalhistas”, afirma o delegado.
Segundo Baptista, os outros dois indiciados também estavam cientes das necessidades de atualização e manutenção e os possíveis riscos de explosões. Em fevereiro de 2023, foi emitido um relatório apontando diversas falhas e ineficiência do sistema de desempoeiramento dos túneis.
“O gerente geral da unidade resolveu que faria apenas colocações de peças com funcionários próprios, sem qualificação para isso. Ele não abriu ordem de serviço para manutenção e contratar empresa especializada. Em resumo, não deu a importância necessária aos graves problemas apresentados, sendo fator decisivo para a ocorrência do fato, sua negligência. Enquanto o gerente de medicina e segurança do trabalho, sabendo dos riscos, não acompanhou para verificar se a manutenção seria feita. Sendo assim, agiu de forma negligente”, destaca o delegado.
Perícia
O perito criminal Lennon Ruhnke explica que uma explosão é causada por uma súbita liberação de energia. O acúmulo de poeira devido ao derramamento de grãos, a geração de faíscas e a elevada temperatura dos grãos contribuem para um cenário propício a uma explosão.
O que diz a C. Vale
Em nota, a C. Vale informa que “avaliará o conteúdo do laudo, assim que o receber formalmente, reafirmando, desde já, seu compromisso de colaboração com as investigações dos fatos ligados ao acidente, tendo, ainda, total compromisso com a reparação dos danos emergentes que assim forem reconhecidos”.
A cooperativa reforça que manterá ativas suas políticas de segurança, intensificando as medidas necessárias para averiguar a regularidade estrutural de todas as suas unidades de recebimento de grãos.
Por meio da nota, a C. Vale diz ainda que “continuará acompanhando todos os desdobramentos judiciais, em trâmite nas esferas cíveis, trabalhistas e criminais, visando responder às suas responsabilidades”.
Explosões
As explosões aconteceram no dia 26 de julho de 2023 e deixaram 10 mortos, dos quais 8 haitianos e 2 brasileiros, e 10 feridos. O acidente ocorreu na unidade central de recebimento de grãos, em um túnel de transporte, enquanto funcionários da cooperativa faziam a manutenção da estrutura. A explosão destruiu parcialmente outros dois silos. Os haitianos mortos eram funcionários terceirizados da cooperativa.
Ministério do Trabalho
No último dia 20, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) concluiu que a explosão no silo de secagem de grãos da cooperativa agroindustrial C. Vale, em Palotina (PR), em 26 de julho de 2023, foi causada pelo excesso de poeira de grãos em suspensão e depositada em diversos pontos da unidade. A equipe de fiscalização lavrou 26 autos de infração, ainda em fase de recurso por parte da empresa.
Sobre a ação do MTE, a C. Vale informou, por meio de nota, que o relatório foi feito com a coleta de informações “de forma unilateral pelos auditores”, sem “possibilidade de contraditório ou ampla defesa”. A companhia acrescentou que “reforça o seu compromisso no cumprimento de todas as normas relativas à segurança e saúde de seus trabalhadores, bem como desde o sinistro, tem mobilizado esforços e recursos necessários à preservação da integridade dos colaboradores atingidos pelo incidente e apoio aos familiares das possíveis vítimas atingidas”.